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Babá de R$ 1 milhão, brasileira virou ‘nanny’ de luxo

A rotina de trabalho de Maria Helena Heames, a baiana que desembarcou nos Estados Unidos com 50 dólares e sem falar inglês - e hoje trabalha para estrelas

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h56 - Publicado em 7 fev 2020, 06h00

O salário anual equivalente a 1 milhão de reais de Maria Helena Heames é de causar inveja a muitos altos executivos. E o que falar do ciúme que sua rotina pode provocar nas socialites que dão um duro danado para ostentar no Instagram? A agenda da baiana de 38 anos inclui viagens em jatos privados, passeios de skate na pista privada da mansão onde trabalha e jantar na mesma mesa que os amigos da casa, como a atriz Megan Fox. Babá brasileira mais bem-sucedida do mundo, Maria Helena garante que paga com grandes doses de suor todos os centavos de dólar que caem em sua conta. Sua especialidade é cuidar dos rebentos de celebridades internacionais, função que exige habilidades como acelerar o carrinho de bebê para fugir dos paparazzi de plantão.

Embora não possa citar nomes e detalhes por questões contratuais, sabe-­se que ela já botou para ninar os filhos de Blac Chyna (apresentadora de TV americana) e de Jeffrey Katzenberg (fundador do estúdio DreamWorks). A cliente mais famosa é Kourtney Kardashian, integrante do clã que fez da exposição da vida pessoal um negócio bilionário. Até o ano passado, Maria Helena morou na casa da família no posto de babá-chefe de três crianças. O cotidiano infantil era tão atribulado quanto o de um chefe de Estado, com festas de aniversário e sessões de fotos ao longo da semana. As nannies “six figures” — como são conhecidas as babás de luxo nos Estados Unidos, por ganharem salário anual de seis dígitos — trabalham seis dias por semana em esquema de plantão. Ou seja, estão à disposição 24 horas por dia. Chamar os pais na madrugada? Último recurso. Elas também têm um cartão de crédito da família. “Há pais que estipulam limite de gasto, como 100 dólares diários. Não é porque é rica que a criança pode levar o que quiser”, diz Maria Helena. Usar o celular pessoal durante o serviço em alguns casos é proibido. Os patrões preocupados com segurança fornecem um aparelho para acompanhar por geolocalização onde os filhos estão.

Maria Helena nunca sonhou em exercer esse ofício. Filha única de pais de classe média de Santo Antônio de Jesus, uma cidade baiana de 100 000 habitantes, número inferior às curtidas recebidas por qualquer foto de sua ex-­patroa, ela cursava enfermagem quando tomou duas rasteiras do destino. Sua mãe morreu de hepatite autoimune e, 23 dias depois, o pai suicidou-­se. O ano era 2007, e a menina de então 25 anos interrompeu a faculdade. Foi aí que uma amiga falou do programa de intercâmbio Au Pair, especializado em recrutar mão de obra para trabalhar em casas de famílias estrangeiras como babá.

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Principe George
PEDIGREE – A espanhola Maria Teresa (de chapéu preto), babá do príncipe George: formada em Norland, escola de cuidadoras fundada em 1892 (Chris Jackson/Getty Images)

A interessada fez a inscrição e, na hora da entrevista por Skype, driblou o fato de não saber inglês: disse que o áudio da câmera havia quebrado. “Respondi às perguntas por escrito usando o recurso de tradução do Google”, conta. Uma vez aprovada, desembarcou com 50 dólares no bolso em Minnesota, quase na fronteira com o Canadá, onde o termômetro registrava 30 graus negativos. Para compensar a friaca, uma sorte: a família contratante foi paciente e aceitou que ela se comunicasse na base da mímica. Maria Helena ganhava 800 dólares por mês. Depois de dois anos, descolou emprego em uma casa de família de classe média alta com holerite mais vantajoso: 28 000 dólares por ano.

Tudo mudou mesmo quando ela fez um teste para entrar para a agência Pavillion, especializada em atender celebridades e toda sorte de gente rica. “Ser aprovada por essa empresa é tão difícil quanto passar num vestibular da Harvard”, exagera. Nessa época, além de dominar o inglês, ela falava também espanhol e exibia no currículo curso de primeiros socorros e de alimentação infantil, entre outros atributos. A primeira entrevista de emprego se deu em Los Angeles, na casa de uma patroa de quem era fã: Christina Aguilera. Não deu certo porque a cantora queria uma babá mais velha. Mas, logo em seguida, a brasileira conseguiu vaga na casa de Jeffrey Katzenberg e começou a virar uma estrela em seu ofício.

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Em geral, as celebridades costumam ter entre seis e vinte funcionários em suas mansões. “Já estive entre cinco babás para cuidar de três crianças”, diz Maria Helena. Nesse disputado mercado, as latinas ganham pontos por ser mais afetuosas com as crianças. As inglesas são as mais formais e, se tiverem passado por Norland, escola fundada em 1892, são disputadíssimas. Foi nessa instituição que se graduou a espanhola Maria Teresa Turrion Borrallo, babá do príncipe George. Aliás, as cuidadoras de toda a família do pequeno príncipe saíram de Norland. “Formamos 100 alunas por ano e só aceitamos estudantes com cidadania do Reino Unido”, disse a VEJA Dee Burn, diretora de marketing da entidade.

A vida ao lado de celebridades pode causar uma confusão de identidade nas dedicadas funcionárias, que, nos Estados Unidos, não usam branco. “É cafona e sem praticidade, pois a roupa fica suja o tempo todo”, explica a brasileira. Com dinheiro no banco e deslumbrada com a ostentação dos patrões, Maria Helena lembra ter torrado muitos dólares em lojas caras da famosa Ocean Drive. Comprava três bolsas Louis Vuitton de uma vez. Depois se deu conta do óbvio: não dava para manter o mesmo padrão de consumo dos chefes — e ela começou a investir em imóveis. Casada com um americano, a baiana deixou a casa de Kardashian para cuidar da própria cria, uma menina, hoje com 9 meses. Ela vive atual­mente com sua família em Minnesota e decidiu se tornar patroa: é dona de uma agência de consultoria para babás que, mirando-se em seu exemplo, sonham seguir seus passos.

Publicado em VEJA de 12 de fevereiro de 2020, edição nº 2673

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