Austrália reconhece genocídio britânico contra povos originários em relatório histórico
Inquérito também apresenta recomendações voltadas à reparação histórica, incluindo pagamento de indenizações e devolução de terras

Um inquérito elaborado pela Comissão de Justiça Yoorrook e entregue ao Parlamento do estado de Victoria, na Austrália, afirma que colonos britânicos cometeram genocídio contra povos indígenas durante o processo de ocupação do território, no século XIX. O relatório, divulgado na terça-feira, 1, revela que, entre 1834 e 1851, a população aborígene local despencou de 60 mil para 15 mil pessoas — uma queda de 75% — como resultado direto de massacres, doenças, violência sexual, sequestros de crianças e o apagamento sistemático da cultura dos Primeiros Povos.
“Isso foi genocídio”, afirma o relatório, resultado de quatro anos de investigação conduzida pela comissão independente formada por representantes das próprias comunidades indígenas. O inquérito também ouviu mais de 1.300 relatos e realizou dois meses de audiências públicas.
Além do reconhecimento formal do genocídio, o relatório apresenta 100 recomendações voltadas à reparação histórica. Entre as medidas propostas estão o pagamento de indenizações, devolução de terras, inclusão da história indígena no currículo escolar, expansão dos serviços de saúde voltados à população aborígene e um pedido oficial de desculpas aos soldados indígenas que lutaram nas guerras mundiais. A comissão também denuncia a persistência do racismo estrutural no sistema de saúde do estado, além de outras formas de violência institucional.
Apesar da contundência do documento, três dos cinco comissários não assinaram parte das conclusões principais. Os motivos da discordância, no entanto, não foram revelados. Em nota oficial, a primeira-ministra de Victoria, Jacinta Allan, agradeceu à comissão pelo trabalho e declarou que o governo analisará “cuidadosamente” as recomendações.
O relatório é o primeiro do tipo na Austrália, e é considerado um marco na tentativa de reconciliação entre o país e os povos originários. Em outubro de 2023, a Austrália rejeitou em referendo a criação de um órgão nacional consultivo que daria aos povos indígenas participação direta na formulação de políticas públicas.