‘Ataques sônicos’ alteraram o cérebro de diplomatas em Cuba
Médicos descobriram “anormalidades cerebrais” em oficiais afetados nos incidentes registrados em Havana
Os misteriosos ‘ataques sônicos’ contra diplomatas americanos em Cuba alteraram o cérebro de algumas das vítimas do incidente, divulgou nesta quarta-feira a agência Associated Press (AP). De acordo com médicos envolvidos nas pesquisas sobre o incidente, “anormalidades cerebrais” foram descobertas à medida que eles buscavam pistas para explicar sintomas desenvolvidos pelos 24 oficiais afetados, como perda de audição, náuseas, dores de cabeça e distúrbios de equilíbrio.
Exames apontaram que parte dos funcionários apresentou mudanças na substância branca cerebral, responsável por auxiliar na comunicação de diferentes partes do órgão. Os médicos, contudo, não souberam explicar como e o que provocou a alteração, nem qual é exatamente a relação com os sintomas apresentados. Oficiais americanos consultados pela AP não revelaram o número de diplomatas que desenvolveram a anomalia, que pode ter relação com o as lesões cerebrais traumáticas leves e danos ao sistema nervoso central revelados em agosto.
Segundo os envolvidos com as pesquisas, as consequências a longo prazo da descoberta também são desconhecidas. É provável que os 24 americanos sejam monitorados por toda a vida por epidemiologistas, a fim de mapear futuros desenvolvimentos do caso. Ouvidos pela AP, oficiais de Washington atestam que um quarto dos diplomatas apresentou sintomas que persistem até hoje ou que só desapareceram muito tempo depois dos ataques.
Não há registros na literatura médica de que sons possam provocar alterações cerebrais como as diagnosticadas no incidente em Havana. Estudos indicam lesões na substância cerebral de veteranos de guerra do Iraque e Afeganistão que sobreviveram a explosões tendo sofrido apenas o impacto provocado por ondas de choque. Nenhum diplomata americano relatou explosões nos episódios em Cuba.
As causas por trás dos incidentes ainda são uma incógnita. Os primeiros relatos dos diplomatas americanos davam conta de que ‘armas sônicas’ poderiam ter sido utilizadas devido aos ruídos escutados no momento dos incidentes, mas a hipótese, nunca confirmada ou desmentida por Washington, perdeu espaço. Os oficiais, de acordo com a AP, trabalham com a possibilidade de os sons serem derivados de algo que tenha provocado os danos.
Em resposta aos novos desdobramentos do caso, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, declarou estar “convencido de que os ataques foram direcionados”. De Bruxelas, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos disse não saber quem ou o que está por trás dos atos, mas culpou Cuba por não prevenir os acontecimentos. “Vocês têm um aparato de segurança sofisticado e provavelmente sabem quem está realizando os ataques. Vocês podem pará-los”, disse o oficial nesta quarta-feira, segundo informa o jornal New York Times.