Associação judaica dos EUA exige desculpas do chanceler Ernesto Araújo
Ministro das Relações Exteriores comparou quarentena com campos de concentração nazistas; entidade considerou a fala 'ofensiva e inapropriada'
Uma das mais importantes associações judaicas dos Estados Unidos exigiu que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, peça desculpas por uma postagem em seu blog pessoal em que compara o distanciamento social aos campos de concentração nazistas. Pelo Twitter, o Comitê Judaico Americano classificou a analogia do chanceler como “profundamente ofensiva e totalmente inadequada”.
Em um texto publicado no seu blog “Metapolítica 17” no último dia 22, Araújo faz uma crítica do livro Virus, do filósofo esloveno de esquerda Slavoj Zizek. Segundo o ministro, o autor acredita que o lema nazista ‘Arbeit Macht Frei’ (o trabalho liberta) ainda é correto, mas foi usado de maneira equivocada durante o Holocausto.
“Os comunistas não repetirão o erro dos nazistas e desta vez farão o uso correto. Como? Talvez convencendo as pessoas de que é pelo seu próprio bem que elas estarão presas nesse campo de concentração, desprovidas de dignidade e liberdade”, escreveu, se referindo ao isolamento social implantado em diversos países do mundo para combater o avanço do novo coronavírus.
No texto, o chanceler defende a ideia de que o mundo enfrenta o “comunavírus”, depois que a pandemia de Covid-19 “fez despertar novamente para o pesadelo comunista”.
Para o Comitê Judaico Americano, considerado uma das mais importantes associações da comunidade judaica nos Estados Unidos, Ernesto Araújo “deve se desculpar imediatamente” por seu posicionamento. “Essa analogia usada por Ernesto Araujo, Ministro das Relações Exteriores do Brasil, comparando as medidas de distanciamento social com campos de concentração nazistas, é profundamente ofensiva e totalmente inapropriada”, escreveu o comitê no Twitter.
Após a exigência de retratação, Ernesto Araújo publicou em sua página no Twitter nesta quarta-feira, 29, uma série de postagens destacando os esforços conjuntos do governo de Jair Bolsonaro e do Ministério das Relações Exteriores para aproximar Brasil de Israel e de todo o povo judeu. Ainda retomou a ideia da mudança da embaixada do Brasil no país de Tel Aviv para Jerusalém, que se pensava esquecida.
O chanceler disse ainda que a matéria compartilhada pelo Comitê Judaico Americano, do jornal israelense Times of Israel, traz uma “crítica injusta e completamente equivocada”.
“Uma aproximação no plano político, econômico, tecnológico e também no plano simbólico, que corresponde aos valores ideais profundos do povo brasileiro, esses ideais que me dedico dia e noite a defender”, escreveu ainda sobre a aproximação com Israel. “Concretizamos a abertura do escritório comercial brasileiro em Jerusalém e, conforme o Presidente Bolsonaro já tem afirmado, estamos rumando para a transferência da Embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém”.
A frase ‘Arbeit Macht Frei’ foi colocada na entrada de vários campos de extermínio do regime nazista durante a II Guerra Mundial, como no campo de concentração de Auschwitz. Estima-se que o Holocausto tenha matado cerca de 6 milhões de judeus, além de outras 11 milhões de pessoas de outros grupos perseguidos pelos nazistas.