Argentina prende guerrilheiro italiano de extrema esquerda foragido há 40 anos
Ex-membro das Brigadas Vermelhas, Leonardo Bertulazzi, 65, é procurado na Itália por sequestro e associação criminosa
A polícia da Argentina comunicou nesta sexta-feira, 30, que prendeu Leonardo Bertulazzi, um ex-membro do grupo armado marxista-leninista conhecido como Brigadas Vermelhas. Ele passou mais de 40 anos foragido do sistema de justiça na Itália, onde é procurado por crimes como sequestro e associação criminosa que teria cometido como parte do grupo guerrilheiro de extrema esquerda.
Bertulazzi vivia na Argentina há anos como refugiado, um status que perdeu no governo do presidente ultradireitista Javier Milei. Ele foi condenado à revelia a 27 anos de prisão, e policiais italianos estavam presentes em Buenos Aires durante sua captura.
Luta armada
As Brigadas Vermelhas foram responsáveis por dezenas de mortes em ataques violentos durante os “Anos de Chumbo” da Itália, período de violência política e convulsão social entre os anos 1970 e 1980, incluindo o sequestro e assassinato do ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro.
“Bertulazzi é responsável por crimes que minaram os valores democráticos e as vidas de muitas vítimas”, disse o governo argentino em comunicado.
Foragido desde 1980, Bertulazzi foi considerado culpado de participar do sequestro do engenheiro naval Piero Costa em Gênova, em janeiro de 1977. Costa, membro de uma das famílias mais ricas do setor naval genovês, foi sequestrado perto de sua casa em Castelletto, quando dois homens armados o empurraram para dentro de um Fiat.
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Inicialmente, o grupo exigiu um resgate de 10 bilhões de liras (moeda oficial da Itália antes do euro), mas negociações com a família Costa levaram a uma redução da demanda para 1,5 bilhão de liras. O pagamento foi feito e Costa foi libertado no início de abril de 1977.
De acordo com os investigadores, o sequestro de Costa tinha visava obter dinheiro para financiar atividades terroristas; 50 milhões de liras foram supostamente usadas para comprar o apartamento em Roma onde Moro foi mantido prisioneiro durante seu sequestro. O corpo crivado de balas do ex-premiê foi encontrado em 1978 no porta-malas de um carro estacionado em Roma, 55 dias após seu sequestro.
Vida na Argentina
Bertulazzi se encontrava em uma situação jurídica complexa que lhe permitiu viver como um homem livre na Argentina, apesar de ser procurado na Itália e todos saberem seu paradeiro. Ele foi preso em 2002, em Buenos Aires, após uma investigação conjunta com a Interpol, mas foi solto oito meses depois porque seus julgamentos italianos foram realizados à revelia, impedindo sua extradição.
O governo da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, recebeu com satisfação a notícia de sua prisão. “A prisão do membro fugitivo das Brigadas Vermelhas foi possível por meio de uma colaboração intensa e frutífera entre as autoridades judiciais italianas, autoridades argentinas e a Interpol”, disse um comunicado. Com raízes políticas fincadas no movimento neofascista da Itália, ela tem proximidade ideológica com Milei.
Seu retorno à Itália, porém, não é iminente. Os advogados de Bertulazzi entraram com um recurso contra a decisão da comissão argentina para refugiados de revogar o status que permitia sua presença em liberdade no país. E mesmo que tribunais rejeitem o recurso, o processo de extradição pode ser longo.