Argentina chega a acordo com FMI para desbloquear US$ 3,3 bilhões
Analistas avaliam que acordo pode fortalecer balança de pagamentos, ao mesmo tempo em que envia uma mensagem positiva aos investidores internacionais
O governo da Argentina chegou a um acordo nesta quarta-feira, 10, com o Fundo Monetário Internacional em relação à dívida de 44 bilhões de dólares do país, de acordo com uma pessoa envolvida nas negociações ouvida pela Bloomberg, que pediu para não ser identificada.
O acordo enviaria cerca de 3,3 bilhões de dólares à Argentina, que o governo de Javier Milei, por sua vez, utilizará para pagar dívidas anteriores do FMI com vencimento no final do mês e posteriormente. De forma mais ampla, o acordo a nível de pessoal dá a Milei tempo para decidir se continua com o programa atual mediado pelo seu antecessor, o peronista Alberto Fernández, ou negocia um novo.
Na semana passada, Milei já havia feito reuniões com representantes do FMI. No ocasião, segundo a imprensa argentina, o ministro da Economia argentino, Luis Caputo, teria proposto vários “waivers“, que no economiquês significa pedir uma espécie de perdão pelo não pagamento de dívida e, desta forma, receber novos empréstimos.
Herdeiro da pesada despesa, o ex-presidente Alberto Fernández, derrotado pelo ultraliberal nas últimas eleições, assinou um novo plano de pagamentos em 2020. A Argentina, porém, não cumpriu os últimos repasses, então seria preciso negociar a suspensão da punição por esse calote – que é justamente a não liberação de empréstimo pelo FMI. Milei considera justamente que o não cumprimento das metas estipuladas há quatro anos torna o acordo “virtualmente fracassado”, e portanto passível de duras mudanças.
Analistas avaliam que um acordo bem sucedido pode fortalecer a balança de pagamentos da Argentina, ao mesmo tempo em que envia uma mensagem positiva aos investidores internacionais. No entanto, uma greve geral organizada por sindicatos está marcada para 24 de janeiro, enquanto cenas de moradores de Buenos Aires batendo panelas e frigideiras, desafiando sua campanha de austeridade, estão se tornando rotina. A inflação provavelmente ultrapassou 200% em dezembro, de acordo com estimativas privadas, à medida que Milei desmantelou os controles de preços em meio à desvalorização do peso.
Também há receio de que o controverso plano econômico do presidente, com medidas impostas por decretos e ainda não aprovadas pelo Congresso, seja visto com maus olhos pelo FMI.
Ainda que tenha apoio popular, já que garantiu 56% dos votos no segundo turno, Milei não possui maioria no Congresso, e precisará superar o obstáculo legislativo para que suas reformas radicais sejam implementadas. Além disso, a vários tribunais estão avaliando se o seu “decretaço”, com mais de 300 propostas, é “inconstitucional” – a justiça já anulou partes da reforma trabalhista nesta quarta-feira.