Após ‘trégua olímpica’, Macron se reúne com esquerda para definir novo premiê
Coalizão que venceu eleições legislativas critica presidente francês por prolongar impasse na formação do novo governo, quase dois meses depois do pleito
A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP), que venceu as eleições legislativas na França há quase dois meses, se encontrará com o presidente do país, Emmanuel Macron, nesta sexta-feira, 23, para discutir a formação do novo governo, pendurada desde o pleito, que depende da nomeação de um novo primeiro-ministro pelo chefe de Estado. O impasse, prolongado por Macron após declarar unilateralmente uma “trégua olímpica” durante os Jogos de Paris, foi criticado pelos esquerdistas como uma “inação grave e prejudicial” do governo.
Em uma carta dirigida aos franceses, os representantes da coalizão e sua candidata à primeira-ministra, Matignon Lucie Castets, acusaram o presidente francês de não aceitar os resultados das eleições legislativas. O pleito foi convocado por Macron depois de sua coalizão centrista ter sido derrotado pelo partido de extrema direita de Marine Le Pen, o Reagrupamento Nacional (RN), nas eleições ao Parlamento Europeu em junho.
“O Presidente da República procrastina ao invés de aceitar as consequências dessas eleições. Quanto tempo vamos continuar agindo como se nada tivesse acontecido no início do verão?”, escreveu a coalizão.
A NFP argumenta que, por ter conquistado o maior número de assentos (182) na Assembleia Nacional, possui o direito de escolher um novo primeiro-ministro.
“Agora é hora de agir: como em todas as democracias parlamentares, a coalizão que chegou à frente deve ser capaz de formar um governo e começar a trabalhar”, reforçou o texto.
Presidente na encruzilhada
Macron, por sua vez, já rejeitou a nomeação da candidata de esquerda, alegando que sua coalisão não obteve uma maioria absoluta dos assentos (289) e, por isso, não teria um apoio “amplo e estável” para governar. “Ninguém venceu”, disse o presidente após o resultado das eleições.
No entanto, os representantes da NFP dizem que estão “convencidos” de que a falta de uma maioria absoluta não será um obstáculo.
Nesta sexta, Macron também se reunirá com membros dos partidos de centro e centro-direita, incluindo o conservador Republicanos. Seu desejo formar uma coalizão ampla que unifique desde os Socialistas, de centro-esquerda, um dos dois principais partidos da NFP, aos Republicanos – e incluindo, naturalmente, seu próprio bloco de centro-direita também. Não teriam lugar nesse agrupamento os extremos à direita – o Reagrupamento Nacional de Le Pen – e à esquerda – o França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon (outro pilar da NFP).
Em julho, Macron aceitou a renúncia do primeiro-ministro centrista Gabriel Attal depois do resultado das eleições parlamentares. No entanto, o presidente pediu que todos os membros do governo permanecessem em seus cargos para “garantir a estabilidade” da França até que uma nova administração seja formada.