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Após atentado e cirurgia, estado de premiê eslovaco ainda é ‘muito grave’

Médicos, porém, conseguiram estabilizar Robert Fico, que foi baleado cinco vezes a queima-roupa em meio a latente polarização na Eslováquia

Por Da Redação
Atualizado em 16 Maio 2024, 10h00 - Publicado em 16 Maio 2024, 09h51

O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, continua em estado “muito grave”, mas “estável” nesta quinta-feira, 16, segundo funcionários do hospital onde está internado na cidade de Banská Bystrica. Na véspera, ele foi baleado cinco vezes após uma reunião do governo enquanto cumprimentada apoiadores, ato que revelou uma polarização profunda no país.

Miriam Lapunikova, diretora do Hospital Universitário Roosevelt, em Banská Bystrica, onde Fico está sendo tratado, comunicou que o primeiro-ministro de 59 anos foi submetido a uma cirurgia de cinco horas, em que duas equipes trataram vários ferimentos de bala.

“Neste momento, sua condição está estabilizada, mas é realmente muito grave, ele estará na unidade de terapia intensiva”, disse ela a repórteres.

Polarização

O atentado foi a primeira grande tentativa de assassinato de um líder político europeu em mais de 20 anos. A presidente eslovaca, Zuzana Caputová, pediu calma e disse que convidaria todos os líderes dos partidos parlamentares para uma reunião conjunta. O aliado de Fico e presidente eleito, Peter Pellegrini, instou que as siglas suspendam ou moderem suas campanhas para as eleições ao Parlamento Europeu, legislativo da União Europeia, no próximo mês.

“Se há algo que o povo da Eslováquia necessita urgentemente hoje é pelo menos um consenso básico e unidade entre os representantes políticos eslovacos”, disse Pellegrini, que venceu as eleições de abril. O cargo de presidente é majoritariamente cerimonial, enquanto o líder de fato do país é o primeiro-ministro.

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Agressor em mãos da polícia

O portal de notícias eslovaco tvnoviny.sk reportou nesta quinta-feira que a polícia acusou o suspeito atirador de tentativa de homicídio, e que ele poderia ser condenado à prisão perpétua.

A mídia eslovaca informou que o atirador tem 71 anos, é ex-segurança de um shopping center, autor de três livros de poesia e membro da Sociedade Eslovaca de Escritores. O meio de comunicação Aktuality.sk entrevistou o filho do suspeito, que disse que seu pai era o titular legal de uma licença de porte de arma. Não houve, porém, confirmação oficial da identidade e antecedentes do agressor.

Jornais locais encontraram ainda um vídeo sem data publicado no Facebook, em que o suspeito diz: “Não concordo com a política do governo”, criticando os planos de Fico para fazer uma reforma envolvendo a televisão pública. A Reuters afirmou ter verificado que a pessoa no vídeo corresponde às imagens do homem preso após o tiroteio de Fico.

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A política de Fico

Os planos de reforma da TV estatal eslovaca não nasceram no vazio. Fico há muito critica a grande mídia da Eslováquia, recusando-se a falar com alguns meios de comunicação. Ele e seus aliados da coalizão no governo criticaram vários sectores da comunicação social e da oposição por “inflamarem” as tensões na nação da Europa Central.

Pode parecer hipócrita, uma vez que as polêmicas do premiê eslovaco também são fonte de tensão. Conhecido por atitudes nacionalistas e populistas, admira tanto Vladimir Putin (já disse que não permitiria a prisão do presidente russo por meio de um mandado internacional se ele fosse para a Eslováquia), como o líder da Hungria, Viktor Orbán, semi-autocrata que Fico avalia “defender os interesses do seu país e do seu povo”.

Mas o líder da Eslováquia não é preto no branco, e aparenta ser grande estrategista. Ao longo de uma carreira de três décadas, navegou com sucesso entre os políticos do establishment e pró-União Europeia, bem como por uma retórica feroz  de nacionalismo anti-Ocidente. Dependendo da situação ou da opinião pública, ele se mostra mais do que disposto a mudar de rumo.

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Nas últimas eleições, sob a justificativa de que só tem os interesses eslovacos em mente, Fico enveredou por ataques à União Europeia e ONG internacionais, além de insultar rivais com falsas acusações a respeito de um suposto plano de golpe. Ele também incendiou a opinião pública ao se opor veementemente à imigração – um fator chave na sua vitória eleitoral em 2016 – e rejeitar que haja comunidades muçulmanas na Eslováquia. Mais recentemente, criticou a união de pessoas do mesmo sexo, taxando de “perversão” a adoção de filhos por casais gays.

Durante a pandemia de Covid-19, ele também foi a voz mais proeminente do país contra o uso de máscaras, confinamentos e a vacinação. Antes de voltar ao cargo de premiê em outubro passado, explorou um sentimento pró-Rússia, que é grande na Eslováquia, para minar o rumo pró-Ocidente do governo anterior.

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