Alberto Fernández e presidente do Equador batem boca no Twitter
O equatoriano Guillermo Lasso culpa a Argentina pela fuga de uma ex-ministra acusada de corrupção, que estava abrigada na embaixada portenha em Quito
A crise diplomática entre Argentina e Equador, que vem desgastando a relação entre os compañeros, ganhou contornos indecorosos nesta terça-feira, 21. Em plena praça pública – da Internet –, o portenho Alberto Fernández e seu colega equatoriano, Guillermo Lasso, lavaram sua presidencial roupa suja em relação a uma ex-ministra corrupta que fugiu do Equador após obter refúgio por dois anos na embaixada argentina em Quito.
A equatoriana María de los Ángeles Duarte, ex-chefe da pasta de Desenvolvimento Urbano, foi investigada e condenada a oito anos de prisão por suborno. Desde o veredito, ela e o filho pequeno ficaram escondidos na embaixada argentina, que lhe concedeu asilo humanitário, porque Lasso recusou-se a dar-lhe salvo conduto para ir a Buenos Aires. Há dez dias, contudo, ela conseguiu fugir de Quito para a Venezuela.
Em resposta, o presidente do Equador declarou o embaixador argentino em Quito, Gabriel Fuks, “persona non grata” na semana passada, dando três dias para que o diplomata deixasse o país. A Argentina decidiu responder na mesma moeda, afirmando que vai expulsar o embaixador equatoriano em Buenos Aires, Xavier Monge Yoder.
Eis que Fernández decidiu, nesta terça-feira, postar no Twitter uma melindrosa carta endereçada a Lasso, colocando na conta do líder equatoriano a responsabilidade pela crise entre os dois países.
Presidente @LassoGuillermo, reciba estas palabras con el sincero afecto de siempre. Haga el esfuerzo de no mezclar este incidente producto de la impericia de oficiales del Estado ecuatoriano con el amor que a nuestros pueblos vincula. https://t.co/OQmzguX2KZ pic.twitter.com/GMMWZ95IOP
— Alberto Fernández (@alferdez) March 21, 2023
O presidente argentino escreveu que absorveu a resposta do colega no Equador à fuga de Duarte “com mais pesar que prazer”, justificando que sua embaixada concedeu-lhe asilo político por “motivos humanitários”, que a Argentina “não tinha o dever de custódia sobre ela nem qualquer capacidade de limitar seus movimentos” e sua saída da sede diplomática “está completamente fora da vontade e capacidade de decisão das autoridades”.
“A reação exagerada do presidente [Lasso] para expulsar o embaixador argentino é o que realmente fere o bom vínculo que argentinos e equatorianos manterão apesar dele. A gravidade e a injustiça dessa decisão mostram que é o seu excesso que realmente prejudica o relacionamento de nossos povos”, alfinetou Fernández.
Ele disse ainda que “a situação é fácil de remediar” e deu um recado a Lasso: “Basta refletir sobre o que você fez e corrigir o seu erro.” E terminou a carta com um pedido quase cínico, para que o presidente do Equador “receba estas palavras com o carinho sincero de sempre”.
Lasso não deixou barato. Em resposta ao tuíte de Fernández, ele publicou: “Lamento muito que Alberto Fernández, presidente da Argentina, tenha colocado sua amizade pessoal e identidade política com Rafael Correa sobre a relação fraterna entre os povos da Argentina e do Equador.”
María de los Ángeles Duarte foi ministra durante o governo do esquerdista Correa, ex-presidente equatoriano. Foi ele quem visitou a vice-presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, com objetivo de pedir asilo político a Duarte em Buenos Aires. O direitista Lasso afirmou que não há motivo para o asilo quando o suposto perseguido é procurado pela Justiça em caso comprovado de corrupção. Porém, Fernández argumentou que essa visão não é válida porque Correa, condenado no mesmo processo que Duarte, recebeu asilo na Bélgica. Já defensores do governo de Equador esclarecem que Correa só recebeu o asilo porque sua mulher é belga.
Para completar, Lasso ainda marcou as contas no Twitter de diversos líderes latino-americanos em sua publicação, como que para defendê-lo ou dar-lhe razão. Entre eles, estão Andrés Manuel López Obrador, presidente do México, Gustavo Petro, presidente da Colômbia, Gabriel Boric, presidente do Chile, Luis Almagro, secretário-geral das Organização dos Estados Americanos (OEA), e Mauricio Macri, ex-presidente argentino e um dos principais opositores de Fernández.
Nenhum deles respondeu ao tuíte.