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Começam a despontar no Brasil rótulos de pequenos produtores da região de Champagne

Lá são produzidos os espumantes mais cobiçados do mundo

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 abr 2025, 08h00

No glamouroso mundo de champanhe, o espumante produzido na tradicional região do nordeste da França, o mercado sempre foi dominado pelos grandes produtores, as chamadas maisons. São apenas 260 casas, algumas com nomes celebrados mundialmente, como Veuve Clicquot, Moët & Chandon, Krug, Dom Pérignon e Ruinart. Juntas, representam quase 70% da produção e 90% das exportações de rótulos para outros países. O conglomerado de luxo LVMH (dono da Louis Vuitton e de muitas outras grifes) detém uma parcela considerável da produção naquelas plagas. Assim é e assim será. Contudo, em movimento muito interessante, um grupo crescente de pequenos fabricantes tem passado a elaborar seus próprios rótulos, de reputada qualidade.

São champanhes mesmo, sem tirar nem pôr, atrelados à rígida legislação local, com selo de procedência. Com uma vantagem: sem o peso da tradição, podem ser mais ousados. O resultado são espumantes de qualidade surpreendente (veja no quadro), que começam a ganhar espaço, inclusive no mercado brasileiro.

É fenômeno relativamente recente, que começou nos anos 1990, timidamente, e agora ganha tração. Para os pequenos proprietários da região, por muito tempo foi mais vantajoso simplesmente cultivar boas uvas e vendê-las às grandes companhias do que se aventurar em voos solos. Afinal, o preço da terra em Champagne está entre as mais caras do mundo do vinho, e cada hectare custa mais de 1 milhão de euros. A área é delimitada em pouco mais de 33 000 hectares, pouco mais do que o tamanho da cidade de Guarulhos, em São Paulo. Há planos de expansão dos limites em até 15%, para atender à demanda por espumantes de luxo, mas é fundamental garantir que os novos territórios tenham o mesmo solo de argila, giz e calcário fundamentais para a boa drenagem das videiras.

O valor desses champanhes de vigneron, ou seja, feitos por agricultores, está na maneira como eles são preparados. Há diretrizes inegociáveis. Apenas três tipos de uva podem ser usados: pinot noir, chardonnay e meunier. Os vinhedos precisam seguir determinações de rendimento e outras limitações agrícolas. Como outros vinhos, passam por uma fermentação, que vai consumir o açúcar e transformá-lo em álcool. As borbulhas são geradas em uma segunda fermentação, feita dentro da garrafa. Há ainda outro passo fundamental. É o tempo que a bebida fica em contato com as leveduras, depois que elas já fizeram seu trabalho. Dependendo do tipo de champanhe, são quinze, 24 ou 36 meses, às vezes mais. É etapa que dá a característica estrutura à bebida.

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GLAMOUR - Publicidade do início do século XX: produto feito para celebrações
GLAMOUR - Publicidade do início do século XX: produto feito para celebrações (Stefano B./Corbis/Getty Images)

No caso das grandes casas, há uma exigência: a manutenção do padrão. Uma Veuve Clicquot pressupõe um sabor específico, e para mantê-lo os enólogos fazem blends, ou misturas, de diversas safras, das mais jovens a outras, muito antigas. Os chefes de cave, responsáveis por manter a qualidade, têm papel crucial nessa produção. No caso dos champanhes de pequenos produtores, há uma mudança relevante. Eles tendem a valorizar a expressão de cada safra, em vez de um único perfil de sabor. Há também uma visão menos comercial e mais próxima da terra. “Trabalho com a planta, o solo e o universo”, filosofa Françoise Bedel, que esteve recentemente no Brasil. “O vinho me diz o que precisa e eu escuto.”

Os rótulos exclusivos e de tiragem limitada chegam ao Brasil trazidos por pequenas importadoras, atentas aos passos de quem escapa da obviedade. Como qualquer champanhe, ressalve-se, são produtos caros. É difícil encontrar uma garrafa que custe menos de 500 reais, e várias encostam na casa dos 1 000 reais. Dado o alto custo de produção e a fama daquele chão tão generoso, os preços até fazem sentido, embora assustem. O desafio é fazer com que o consumidor desista das marcas mais conhecidas, as grifes unânimes, para apostar nos rótulos menores. Nesse caso, a curiosidade pode ser recompensada pelas saudáveis e inéditas descobertas, sinônimo de vitalidade. O paladar agradece.

Publicado em VEJA de 4 de abril de 2025, edição nº 2938

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