Um craque sem freio: Mbappé acelera na trilha das lendas da Copa
Aos 23 anos, atacante francês já ultrapassou lendas como Zidane e Zico em gols em Mundiais e segue firme em busca do bicampeonato no Catar
DOHA – “Mbappé é um jogador inteligente, rápido e imprevisível. A grande vantagem dele são as mudanças no jogo. Tem vários jogadores que são bons tecnicamente, mas não são imprevisíveis como ele”, definiu ninguém menos que o rei Pelé, em um encontro com o prodígio francês promovido por uma marca de relógios que os patrocina, em 2019. “O estilo dele, o tipo de jogo, é latino, praticamente brasileiro. Eu falo para ele: pena que não jogou no Santos”, completou Sua Majestade. À época já se falava muito sobre uma coincidência entre eles: o fato de terem brilhado na conquista de uma Copa do Mundo antes dos 20 anos, Pelé com 17 em 1958, e Kylian Mbappé aos 19, em 2018. Quatro anos se passaram desde o caneco francês na Rússia e o astro nascido em Paris segue firme rumo a alcançar mais marcas de Pelé, incluindo o bicampeonato consecutivo.
Neste sábado, Mbappé teve atuação espetacular no triunfo da França por 2 a 1 sobre a Dinamarca, no estádio 974, com dois gols que valeram a classificação antecipada às oitavas de final. Aos 23 anos, Mbappé chegou a sete bolas na rede em nove jogos de Copa, deixando para trás lendas locais como Michel Platini, Zinedine Zidane e Thierry Henry, ídolos brasileiros como Zico, Garrincha, Romário, Neymar, Bebeto e Rivellino, e ficando na cola de seu parceiro de PSG, o argentino Lionel Messi, que disputa agora seu quinto Mundial.
Neste ritmo, o recorde Miroslav Klose (16 gols entre 2002, 2006, 2010 e 2014) já parece bastante factível, visto que Mbappé tem idade para jogar, tranquilamente, este e mais dois Mundiais. E, ao contrário do alemão, cujo único grande diferencial era o poder de finalização, o francês é um craque absoluto, veloz como ninguém, inteligente e cheio de personalidade – por vezes até demais.
É por causa do camisa 10 que a França nem parece sentir as ausências de última hora de diversos atletas importantes cortados por lesão, como N’Golo Kanté, Paul Pogba, Christopher Nkunku e, sobretudo, Karim Benzema, o atual dono da Bola de Ouro (um prêmio que Mbappé dificilmente terminará a carreira sem erguer).
Eleito o craque da partida, o astro do PSG não falou com jornalistas na zona zona mista do 974. Ele foi exaltado por seus companheiros, mas pareceu haver uma preocupação extra em não inflar ainda mais o ego da jovem estrela, que recentemente negou uma proposta do Real Madrid e se transformou no atleta mais bem pago do PSG, à frente de Messi e Neymar, segundo a imprensa europeia.
“Não podemos esquecer do trabalho em equipe. É um equilíbrio. Sabemos que Kylian pode nos ajudar muito, mas temos jogadores de outro perfil, mais defensivos, que também são decisivos”, disse o goleiro e capitão Hugo Lloris. “Ele está indo muito bem, sendo eficiente quase todos os jogos e hoje marcou também graças a Theo [Hernández] e Antoine [Griezmann]. É um trabalho de equipe”, completou Olivier Giroud.
O técnico Didier Deschamps foi menos econômico durante a sua entrevista coletiva. “Ele é um jogador excepcional. Ele tem essa capacidade de ser decisivo mesmo que os adversários tomem providências. Ele é um pouco mais liberado pelo trabalho dos outros ao seu redor e se encaixa no coletivo. Ele estabeleceu para si mesmo essa meta da Copa do Mundo. A seleção da França tem e precisará de um grande Kylian.”
“Ele é um líder. Existe o líder físico, o líder técnico e o líder mental. Tem outros falando. Kylian não vai falar, mas pelo que ele faz, ele é uma locomotiva”, completou Deschamps, que foi campeão como atleta em 1998 e técnico em 2018, algo que só Zagallo e Franz Beckenbauer fizeram. Mbappé caminha (ou melhor, acelera, como só ele sabe fazer) para entrar neste grupo de lendas da Copa. Lembrando que só Pelé tem três títulos mundiais (1958, 1962 e 1970), além de 12 gols em Copas.