Relembre os casos de ‘tapetão’ no futebol brasileiro
Mais uma vez, Fluminense recorre a seus advogados. Outros grandes clubes do país também já alcançaram vitórias históricas nos tribunais
O Campeonato Brasileiro de 2016 pode registrar mais um decisão de “tapetão”, como é popularmente conhecida a prática de alterar, via tribunal, um resultado conquistado em campo. Mais uma vez, o Fluminense aparece como principal envolvido. A equipe tricolor alega que houve interferência externa, proibida pela Fifa, na derrota para o Flamengo e solicitou a anulação do clássico junto ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O Fluminense já escapou de dois rebaixamentos e “pulou” uma divisão com a ajuda de seus advogados. Outras grandes equipes do futebol nacional também já se envolveram em escândalos. Relembre os principais casos:
1996: o primeiro tapetão tricolor
O Fluminense terminou o Brasileirão de 1996 na penúltima colocação e, portanto, deveria ser rebaixado junto com o lanterna Bragantino. No entanto, uma acusação de esquema de suborno da arbitragem, conhecido como “caso Ives Mendes”, fez com que a CBF suspendesse o rebaixamento naquele ano. Até hoje o escândalo não foi plenamente esclarecido. A “virada de mesa”, porém, apenas adiou em um ano o rebaixamento: em 1997, o Fluminense foi antepenúltimo e caiu de vez para a Série B.
Copa João Havelange de 2000
O Fluminense foi mais uma vez beneficiado em 2000. O time, que caiu para a Série C em 1998, e foi campeão em 1999, saltou diretamente da terceira para a primeira divisão graças ao “caso Sandro Hiroshi”, que deu origem à Copa João Havelange. Em 1999, o atacante de descendência japonesa atuou pelo São Paulo mesmo estando “bloqueado” pela CBF por irregularidades nas negociações entre o clube que o revelou (Tocantinópolis) e o que o vendeu ao São Paulo (Rio Branco). Descobriu-se, depois, que Hiroshi havia adulterado sua idade – é o caso mais célebre de “gato” no futebol nacional. O Botafogo, que perdeu para o São Paulo de Hiroshi por 6 a 1, e o Inter, que empatou em 2 a 2, conseguiram ganhar os pontos das partidas nos tribunais. O resultado acabou livrando o Botafogo do rebaixamento e colocando em seu lugar o Gama. A equipe de Brasília, naturalmente, recorreu à Justiça comum contra a CBF, que foi punida. Com isso, o Brasileirão de 2000 foi organizado pelo Clube dos 13 e não pela entidade que gere o futebol nacional. Batizado de João Havelange, o torneio teve quatro módulos (116 clubes de três divisões), sem rebaixamento, e propiciou o retorno à elite de Fluminense e Bahia.
O drama da Lusa em 2013
Em 2013, mais uma vez o torcedor tricolor chorou um rebaixamento, mas foi salvo nos tribunais. A Portuguesa, que terminou na 16ª colocação, caiu uma posição por causa da escalação irregular do meia Héverton. Ele estava suspenso por acúmulo de cartões amarelos, mas mesmo assim entrou em campo na segunda etapa da partida diante do Grêmio, na última rodada. Por isso, a Portuguesa perdeu quatro pontos e terminou com dois a menos que o Fluminense, que escapou da degola – e fez festa na porta no STJD. De lá para cá, a Portuguesa amargou mais dois rebaixamentos: em 2016, caiu para a Série D do Brasileirão.
2005: a máfia do apito
Um dos casos mais recordados de decisão dos tribunais aconteceu há onze anos. Uma reportagem de VEJA, em outubro de 2005, revelou a chamada “máfia do apito”, um esquema de manipulação de resultados que tinha o árbitro Edílson Pereira de Carvalho como principal protagonista. O juiz confessou que tentou manipular resultados de algumas partidas e o STJD decidiu anular todas os 11 jogos por ele apitados. A medida acabou beneficiando o Corinthians, que havia perdido os clássicos para São Paulo e Santos, e conquistou quatro pontos nas partidas remarcadas. O clube alvinegro foi o campeão daquela edição, com três pontos de vantagem sobre o Inter.
1997 – O efeito suspensivo de Edmundo
O atacante Edmundo foi o craque do Brasileirão de 1997: campeão pelo Vasco e artilheiro do torneio com incríveis 29 gols. No entanto, o “Animal” só conseguiu disputar o duelo final (0 a 0 contra o Palmeiras, no Maracanã), graças a uma ajuda providencial de Eurico Miranda e do tapetão. Edmundo levou o terceiro cartão amarelo que o tiraria da final. Propositalmente, levou um vermelho – que, em condições normais, também o deixariam de fora da decisão. Porém, o Vasco solicitou um julgamento pela expulsão e conseguiu um efeito suspensivo que o liberou para a partida.
1992: o salto do Grêmio
Outro tricolor, o gaúcho, também conseguiu uma mãozinha e tanto para retornar à primeira divisão. Rebaixado à Série B em 1991, o Grêmio fez campanha pífia na segunda divisão do ano seguinte. No entanto, uma mudança no regulamento no meio do campeonato fez com que o número de vagas à Série A subisse de duas para 12 (!). O Grêmio terminou em novo e voltou à elite.
1986 e 1987: o caos no Brasileirão
Em 1986, a CBF criou um novo formato para o Brasileirão. Batizado de Copa Brasil, o torneio juntaria as taças de Ouro, Prata e Bronze (séries A, B e C) numa única competição com 80 clubes. Estava prevista a classificação de 28 clubes para a segunda fase, mas o Vasco, eliminado, solicitou na Justiça a sua classificação na vaga do Joinville, envolvido em caso de doping. A equipe catarinense também entrou na Justiça e retomou a vaga, desta vez deixando de fora a Portuguesa. Os clubes paulistas, então, ameaçaram deixar o torneio em apoio à Lusa e a CBF não teve outra escolha senão classificar 35 times em vez de 28. Diante de tanta confusão, foram criados, no ano seguinte, o Clube dos 13 e a Copa União, a primeira tentativa de se fazer uma liga independente no país. A mudança, porém, gerou novo caos: o Flamengo foi o campeão da Copa União ao bater o Internacional na final. No entanto, a CBF (que havia dado aval para criação da Copa União) criou um novo torneio que envolveria os finalistas do Módulo Amarelo (uma espécie de Série B) e os finalistas do Módulo Verde (como a CBF definia a Copa União). Como Flamengo e Inter se negaram a participar do torneio da CBF, Sport e Guarani (finalistas do Módulo Amarelo) fizeram a decisão, vencida pela equipe pernambucana. O Sport, então, foi declarado campeão brasileiro de 1987 pela CBF, uma posição que até hoje causa muita controvérsia entre rubro-negros do Rio e de Pernambuco.