Quem são os agentes da PF a postos na festa da abertura olímpica
Eles vieram a Paris reforçar a tropa que vai zelar pela segurança do show que ocorre num mundo sob alta tensão
Céu, água e ar — não há um canto de Paris que não esteja assinalado no plano de segurança que vem sendo feito e refeito há anos e agora, sob a moldura de tensões geopolíticas, ganhou contornos radicais. Nesta sexta-feira, 26, durante a cerimônia de abertura da Olimpíada no Sena, a primeira a céu aberto desde que o Barão de Coubertin resolveu remexer no baú dos gregos e reeditar os Jogos, estarão a postos 45.000 policiais e soldados franceses, além de 80 barcos-patrulha sobre as águas do rio convertido em palco.
Mas calma que há mais gente no balaio da segurança, uma turma de sotaques variadíssimos que, para se entender, fala em inglês (e olha que desta vez os franceses nem chiaram). São 180 homens e mulheres de 44 países que vieram dar uma força aos colegas, patrulhando ruelas e bulevares nestes últimos dias e, agora, as imediações do Sena.
Em meio à babel de sotaques, o português é inconfundível. No palacete que abriga o Ministério do Interior, com o dono da pasta Gérald Darmanin enaltecendo a presença dos estrangeiros em seus jardins às vésperas da abertura, avistava-se Heron Bambirra, 47 anos, da Delegacia Executiva de São Paulo, dono de currículo vistoso.
Ele participou da segurança de delegações na Olimpíada do Rio, em 2016, onde adquiriu traquejo para essa natureza de evento, e atuou em várias operações que ganharam o noticiário, inclusive a Lava-Jato. Não é novato em Paris: certa vez, se despencou atrás de um sujeito no Marrocos e acabou parando nestas bandas.
SÓ NÃO DÁ PARA PRENDER
São ao todo dezesseis policiais federais espalhados pela cidade com esse tipo de expertise. “Os franceses nos receberam muito bem, põem até MPB no rádio do carro”, conta Heron, que outro dia ficou na retaguarda na detenção de um sujeito envolvido num roubo próximo a Galeries Lafayette, a loja de departamentos famosa pela cúpula art nouveau. “Só não posso eu mesmo prender ninguém aqui”, explica.
Outro com a bandeira do Brasil no uniforme, Alexandre Gutemberg, 53 anos de idade e 27 de polícia, que também atuou nos Jogos cariocas, saiu de Belém para aterrissar pela primeira vez no agitado solo francês. Trabalhando dez horas diárias em turnos de três dias seguidos, não sobra muita brecha para grandes turismos, mas fazer novos colegas, dá.
Ele e Heron já compartilharam a missão de vigiar as mesmas vizinhanças que agentes da Coreia do Sul e dos Emirados Árabes Unidos. “Essa é uma oportunidade e tanto”, acredita Alexandre.
AQUI NÃO É A SUÉCIA
Na tão aguardada cerimônia de hoje, sete dos brasileiros fazem a guarda no chamado perímetro vermelho, nas cercanias do Sena (não confundir com a zona cinza, que percorre justamente o epicentro dos cartões-postais). Embora de folga, todos os demais já foram avisados: como medida preventiva, não podem estar a mais de cinco horas de Paris. Vai que são úteis numa circunstância imprevisível.
No encontro promovido pelo ministro Darmanin, aliado de Emmanuel Macron conhecido pelo apetite de ascender, escutavam-se ainda línguas escandinavas, como sueco e finlandês. Frederik (que preferiu não citar sobrenome, dada a delicadeza de sua missão) representava a ala sueca da tropa. Técnico em bombas, o que diz entre um e outro petit four, ele está bem ciente das chacoalhadas do mundo atual e pondera: “A Suécia tem seus problemas, mas é muito diferente da França, que está no centro das atenções”.
E em meio a bem treinados cães farejadores e uma seleção de rótulos tintos e brancos, o ministro fez graça. “A cada século, Paris sedia uma Olimpíada. E foi justo comigo que a abertura calhou de ser no Sena”, falou, e arrematou: “Daqui a uns 3.000 anos acontecerá de novo, e eu nem estarei aqui para ver…”.
Depois, posou com a tropa estrangeira, inclusive ao lado da dupla Heron e Alexandre, com todo mundo sorrindo largo para a fotografia a poucas horas da tão esperada cerimônia de abertura nas águas do Sena.