Por que a regra da bola na mão no futebol provoca tanta confusão?
Em lance polêmico em Grêmio x Flamengo, bola bate no peito e depois no braço de Gerson; VAR não vê pênalti e reação divide opiniões

Durante a vitória do Flamengo sobre o Grêmio por 2 a 0, no domingo, 13, pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro, um lance envolvendo o meio-campista Gerson reacendeu um velho debate entre torcedores, comentaristas e árbitros: afinal, quando um toque de mão dentro da área deve ser punido com pênalti? Aos 15 minutos do primeiro tempo, a bola desviou no pé de Wesley, companheiro de Gerson no Flamengo, e, em seguida, tocou no braço do volante dentro da área.
O juiz Ramon Abatti Abel optou por não marcar a penalidade — decisão confirmada pela equipe do VAR, que avaliou que o braço estava “atrás da linha do corpo” e que o toque não foi deliberado. Ainda assim, a interpretação dividiu opiniões, especialmente após a divulgação do áudio da cabine de vídeo, que omitiu um detalhe considerado relevante por especialistas: o toque anterior no peito do jogador.
O que dizem os critérios da arbitragem?
Segundo a análise da cabine, Gerson tentou recolher o braço, que estaria protegido pelo corpo no momento do toque. Além disso, a bola teria vindo de um desvio de um companheiro, o que caracterizaria uma jogada inesperada. A leitura segue o protocolo da CBF, que orienta que toques acidentais, sem intenção clara e em condições não antinaturais, não devem ser punidos com penalidade.
Ainda assim, chamou atenção o fato de o toque anterior no peito não ter sido mencionado na comunicação do VAR. Pelos critérios atuais, esse contato com o corpo antes da mão é um dos elementos que podem isentar o jogador de punição — e, nesse caso, não foi levado em consideração na análise revelada ao público.
O que dizem as regras?
As Regras do Jogo da CBF para a temporada 2024/25 destacam que infrações não deliberadas por toque de mão na bola, mesmo quando resultam em pênaltis, devem ser tratadas da mesma forma que faltas cometidas em tentativas de disputar a bola. Ou seja, o foco da decisão deve estar na intenção e na consequência do lance, e não apenas no contato com o braço.
No episódio em questão, prevaleceu a interpretação de que Gerson não teve culpa no lance: o braço estava junto ao corpo, o movimento não foi intencional e a bola foi desviada inesperadamente. O problema, segundo apontamentos de especialistas, é a ausência de uma análise mais completa, especialmente em relação ao toque no peito, que poderia encerrar qualquer dúvida sobre a legalidade do lance.
Por que ainda gera tanta dúvida?
Com os ajustes feitos na última década, a regra da mão na bola passou a depender de uma série de critérios subjetivos: posição natural do braço, movimento deliberado, reação à bola, origem do passe, ampliação do corpo, bola inesperada. Essa multiplicidade de fatores torna cada decisão passível de várias leituras — inclusive dentro da própria arbitragem.
Na prática, o que deveria ser uma padronização técnica frequentemente se torna motivo de polêmica. Quando os critérios não são completamente observados ou explicados, a sensação de incoerência permanece, mesmo que a decisão final esteja correta segundo a regra.
Leia o trecho da regra
Regras do Jogo da CBF, edição 2024/25 – Regra 12, Faltas e Condutas Incorretas:
“As infrações não deliberadas por toque de mão na bola são normalmente resultado da tentativa de um jogador de jogar de maneira leal. Assim, quando um tiro penal for concedido por tais infrações, deve ser aplicada a mesma filosofia das infrações (faltas) em uma tentativa de tocar na bola ou disputá-la — isto é, as infrações por impedir uma clara oportunidade de gol resultam em um cartão amarelo e as infrações por interromper um ataque promissor não resultam em cartões.”