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Por onde anda o padre que atrapalhou Vanderlei Cordeiro?

Neil Horan, ex-pároco da igreja católica na Irlanda, agarrou o brasileiro nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004

Por Bianca Alvarenga Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 ago 2016, 15h18 - Publicado em 6 ago 2016, 11h05

A imagem do ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima sendo agarrado por um ex-padre irlandês nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, ficou mundialmente conhecida. Na ocasião, Vanderlei liderava a prova com uma diferença de 150 metros do italiano Stefano Baldini, mas perdeu metade do seu tempo de vantagem quando foi empurrado por Neil Horan, ex-pároco da igreja católica da Irlanda. Desconcentrado pelo susto, o brasileiro foi ultrapassado por Baldini e pelo americano Mebrahtom Keflezighi. Apesar de ter perdido a chance de conquistar a medalha de ouro, Vanderlei demonstrou humildade e espírito esportivo ao subir ao pódio para receber o bronze. Meses depois, foi condecorado com a Medalha Pierre de Coubertin, sendo o único latino-americano a receber a honraria dada a atletas que demonstram o verdadeiro espírito esportivo. Após o empurrão, Neil Horan foi deportado da Grécia e condenado a um ano de prisão – pena convertida em uma fiança de 3 mil euros. O episódio foi lembrado na noite desta sexta-feira, durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, em que a missão de acender a pira olímpica foi desempenhada por Vanderlei. Mas por onde anda o padre que atrapalhou o maratonista brasileiro doze anos atrás?

Neil Horan tem atualmente 69 anos e continua aproveitando-se de protestos e eventos para chamar a atenção para o que ele chama de sua missão: alertar o mundo sobre a volta de Jesus Cristo à Terra e sobre os valores da Bíblia. No mês passado, o ex-padre esteve em protestos contra o a saída do Reino Unido e contra o líder da campanha do Brexit, Boris Johnson, trajando roupas típicas irlandesas e segurando cartazes com mensagens fanáticas. A igreja afastou Horan das funções de padre no fim da década de 90, antes mesmo de o episódio de Atenas acontecer, por considerar que ele apresentava problemas psicológicos. Desde então, o ex-padre dedica-se a chamar a atenção dançando e exibindo seus cartazes sobre a volta de Jesus. Embora o empurrão a Vanderlei Cordeiro Lima tenha sido a aparição mais marcante de Horan, não foi a única vez em que ele atrapalhou competições esportivas.

Em 2003, um ano antes dos Jogos de Atenas, o ex-padre invadiu a pista do Grande Prêmio de Silverstone de Fórmula 1, em um trecho em que os carros atingem uma velocidade de quase 300 quilômetros por hora. Horan foi retirado da pista e preso por dois meses. O vencedor da prova de Silverstone foi coincidentemente o piloto brasileiro Rubens Barrichello. Meses depois, o ex-padre invadiu uma corrida de cavalos na Inglaterra e novamente foi detido pela polícia. Após o episódio com Vanderlei, Horan foi chamado de “homem mais odiado do mundo” passou a ser vigiado em competições esportivas. Ele protestou durante a Copa de 2006, na Alemanha, e durante a maratona dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, mas sem incidentes em ambos episódios. Horan exibiu suas mensagens fanáticas ainda no casamento do príncipe William e de Kate Middleton, em 2012 e no funeral de Margaret Tatcher, em 2013.  Ele prometeu vir ao Rio, mas não há registro da presença do ex-padre nos Jogos de 2016.

Viúvo desde 2012, Neil Horan mora sozinho em uma casa alugada em Peckham, no sul de Londres. Ele tentou retornar à igreja católica da Irlanda, mas foi recusado, e hoje vive do dinheiro pago por suas apresentações de dança e da ajuda de amigos. Ele chegou a ser aprovado na primeira fase no programa de talentos Britain’s Got Talent, com uma apresentação de dança, mas foi dispensado quando os jurados descobriram quem ele era. Horan pediu desculpas a Vanderlei repetidas vezes ao longo dos anos – chegou a, inclusive, fazer aulas de português para isso. Ele disse arrepender-se de atrapalhar o maratonista brasileiro e afirma que gostaria somente de exibir sua mensagem para o mundo. Vanderlei perdoou o fanático irlandês, e considera o episódio resolvido. A honra de acender a pira olímpica foi o desfecho merecido para a história do maior atleta maratonista do Brasil.

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