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Os conflitos e incertezas que ameaçam a Copa do Mundo de Clubes

A competição, que era para ser um evento gigante, nasce embebida das crises globais e da guerra por dinheiro no futebol

Por Natalia Tiemi Hanada Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 jun 2025, 13h59 - Publicado em 12 jun 2025, 16h59

Fez sucesso, no início dos anos 2000, e ainda hoje, em sucessivas edições, o livro Como o Futebol Explica o Mundo, do escritor americano Fran­klin Foer. Descobre-se, ao longo do volume, como os conflitos do cotidiano alimentam o esporte mais popular do planeta. Dito de outro modo, em conhecida frase do ex-treinador italiano Arrigo Sacchi, de quem o atual técnico da seleção brasileira, Carlo Ancelotti, foi auxiliar entre 1992 e 1994: “O futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes”.

É o que veremos, com pompa e circunstância, na Copa do Mundo de Clubes, de 14 de junho a 13 de julho, nos Estados Unidos. Do torneio participarão 32 clubes, divididos em oito grupos (veja no quadro), entre eles os brasileiros Botafogo, Fluminense, Palmeiras e Flamengo, vencedores das quatro últimas edições da Libertadores da América. É o primeiro torneio da Fifa em molde tão grandioso, ensaio geral para medir a força dos times nos corações e mentes na comparação com o interesse pelas seleções — no Brasil, de uns tempos para cá, é mais fácil ver meninas e meninos com a camisa do PSG e do Barcelona do que com a canarinho pentacampeã. Contudo — eis o futebol explicando o mundo, como nas páginas de Foer — a largada foi ruim. Em decorrência da briga tarifária de Donald Trump contra países como o México, de admiradores da bola, o volume de ingressos vendidos ficou muito abaixo do esperado. Para a partida de estreia, entre a Inter Miami de Lionel Messi e o Al-Ahly, do Egito, estimava-se lotar os 65 000 lugares do Hard Rock Stadium, na Flórida. Que nada. Apenas 20 000 lugares foram negociados. A solução: o valor do tíquete médio despencou 30%, e segue caindo. Para a finalíssima, em Nova Jersey, houve redução de 890 dólares, em ponto nobre, para 300 dólares.

A baixíssima procura tem tripla razão: o sumiço dos imigrantes, especialmente os latinos mexicanos, e haja lenha na fogueira com os conflitos de Los Angeles (leia na pág. 52); a dificuldade de entrar nos Estados Unidos, dada a severidade para emissão de vistos; e a real falta de interesse dos americanos com a modalidade que eles chamam de soccer. Houve uma chance de popularizá-lo em 1994, na Copa vencida pelo Brasil de Romário, e espera-se bom humor na Copa do ano que vem, compartilhada com México e Canadá. Por ora, no entanto, impera a frieza. Realizar o atual campeonato de clubes em território americano seria um modo de esquentar os ânimos para 2026 tomando emprestada a paixão da juventude por times, e não por nações. Longe imaginar que a Fifa tenha abandonado a ideia das Copas, não — mas a ideia é inaugurar uma outra galinha dos ovos de ouro a cada quatro anos, em biênios intercalados. O nome do jogo: dinheiro. Um dia é possível que dê certo, mas o pontapé inicial não parece nada promissor. “Há uma janela de oportunidade de negócios para muitos clubes, especialmente os de menor visibilidade global, como os brasileiros”, diz Amir Somoggi, diretor-executivo da Sports Value, empresa de marketing esportivo. “Pode não funcionar na primeira vez da disputa, mas há futuro.”

DESAFIO - O Botafogo, campeão da Libertadores: quatro brasileiros no torneio
DESAFIO - O Botafogo, campeão da Libertadores: quatro brasileiros no torneio (Antonio Lacerda/EFE)
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Dá-se tímida tração, ainda, porque o torneio é vítima de uma guerra fratricida entre a Fifa do presidente Gianni Infantino e a Uefa, a entidade de asso­cia­dos da Europa, do esloveno Aleksander Ceferin. Os europeus reclamam porque a competição pega as equipes logo depois da Champions League, escalpeladas. A jogada da Fifa, em bola dividida: prometer, mas sem cumprir, premiações mais altas. O campeão deste junho e julho pode faturar até 125 milhões de dólares. Na Champions, o butim vai a 154 milhões. A batalha entre Infantino e Ceferin vai longe, com exageros de partidas.

Sim, alguns jogos serão muito bons, alegrarão as tardes diante da TV e internet, e especialmente para as equipes do Brasil, ir longe será imensa e genuína vitória, além do cofre recheado. Contudo, a Copa do Mundo de Clubes que era para nascer clássica e gigante é por ora uma grande e incerta aposta. Em tempo, para confundir e não explicar, como é típico da cartolagem: aquela disputa do fim de ano continua a existir: foi batizada de Copa Intercontinental. O calendário do futebol não é para amadores, em confusão que — insista-se — explica o mundo.

Publicado em VEJA de 13 de junho de 2025, edição nº 2948

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