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O ouro de Duda e Ana Patrícia, a dupla dinâmica do vôlei de praia

Elas subiram ao alto do pódio numa Olimpíada impecável em que fizeram como gostam - se divertiram muito

Por Monica Weinberg, de Paris
Atualizado em 9 ago 2024, 21h26 - Publicado em 9 ago 2024, 20h35

Sob a moldura da Torre Eiffel, Ana Patrícia e Duda fizeram o jogo entrosado delas e venceram as canadenses Melissa e Brandie empurradas por uma torcida que tingiu de verde e amarelo a arquibancada onde muita gente já estava familiarizada com a dupla. “Elas são as primeiras do mundo, vão ganhar”, apostava um grupo envolvido em bandeiras e gritando com todo o vigor “Ê-lê-lê-ô, Brasil!” E ganharam mesmo o ouro, numa partida boa de ver, somando mais uma medalha às dez já conquistadas pelas mulheres em Paris, três delas douradas.

Nesta sexta-feira, 9, o placar de 26 a 24 a favor do Brasil no primeiro set era o prenúncio de um jogo eletrizante, disputado ponto a ponto. O segundo set as brasileiras perderam. Quando chegou o terceiro, a tensão era tal que saiu até discussão na rede com as canadenses. Em nome do espírito olímpico, mais que de repente tocou na caixa Imagine, o hino pacifista de John Lennon. Todo mundo riu.

O set terminou em 15 a 10 para Duda e Ana Patrícia, que deram um protocolar abraço nas adversárias e foram receber sua medalha ao som de “Poeira/ Levantou poeira” e “Em fevereiro/ Tem Carnaval”. E fez-se mesmo um Carnaval aos pés da Torre, onde, no fim da festa, ouviu-se o hino nacional cantado a plenos pulmões.

Durante toda a Olimpíada, as duas acabavam de jogar e saíam da quadra bem informais, diretas na conversa, sem subir naquele degrau do nariz empinado. E o ritual se repetiu. “Fiquei paralisada, ainda estou tentando processar. Pensei tanto nisso e, quando aconteceu, é indescritível”, celebrava Ana Patrícia, lembrando de uma hérnia na lombar que a fez até duvidar da ida a Paris, tamanha a dor. “Só acredito que ganhamos porque a medalha está no peito”, falava Duda, contando: “Usamos o mesmo top e o mesmo short em todas as partidas. Ficamos supersticiosas”, diz.

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“Pessoas não numéricas”

Elas pisaram nas areias da espetacular arena como favoritas – são as primeiras no ranking mundial -, mas garantem que isso “não é uma pressão, não.” Nunca se apoiaram nesta e em nenhuma outra estatística. “Somos não-numéricas”, brincou Ana Patrícia. “A cada jogo, a coisa zera.”

Pesou a favor das duas um fator que elas sempre repisam: são mais do que uma dupla no esporte, são amigas na vida e conhecem muito bem uma a outra. Começaram a competir juntas uma década atrás, quando ficaram com o ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude, na cidade chinesa de Nanjing. Ainda levaram a medalha dourada em um Mundial Sub-21, em 2017. Mas aí cada uma seguiu seu rumo ao entrar no circuito profissional.

Em Tóquio, estavam com outras parceiras de quadra – ao lado de Ágatha, Duda caiu nas oitavas de final, enquanto Ana Patrícia, com Rebecca, não passou das quartas na Olimpíada. Não deu muito tempo e, em 2022, as duas se reencontraram e voltaram a ser uma dupla. “Guardamos ótimas lembranças juntas, na juventude, e agora, mais maduras, temos ainda mais chances de vencer”, apostava Duda antes de Paris.

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Tudo acabou em praia

A trilha até chegar às redes fincadas na areia foi natural para Duda Lisboa, 26 anos, que já nasceu num lar atlético em Sergipe. A mãe era jogadora de vôlei de praia, e a filha a acompanhava em viagens de ônibus de cá para lá para assisti-la nos torneios. Aos 9, evidentemente encantada, estreou em competições e, com 12, ingressou na arena adulta sergipana. Em 2013, Duda ascendeu às competições internacionais.

Para Ana Patrícia Ramos, também de 26 anos, o roteiro foi menos retilíneo. Ela praticou esportes de todo o tipo como uma forma de se destacar e tentar se livrar do bullying pela altura avantajada, 1,94 metro. Vivia em Espinosa, no interior mineiro, e um professor detectou nela talento e a indicou para um projeto de vôlei de praia, em Betim. Tinha 16 anos, e não demorou a ser chamada para o centro de desenvolvimento da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), se deu bem lá, e o resto é história. “Quando vivi na pele o vôlei de praia, aquela liberdade me conquistou. Viajar e estar sempre na praia é muito bom”, diz Ana Patrícia.

É bem verdade que a praia coroada pela Torre Eiffel não é exatamente…uma praia. Mas aquelas areias certamente serão inesquecíveis para Duda e Ana Patrícia.

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