É tudo combinado? Série da Netflix sobre bastidores da WWE expõe segredos do wrestling
A série documental 'WWE: Surreal', que chega nesta terça à plataforma, escancara a maneira com o wrestling mescla esporte e entretenimento

No mundo do wrestling, a luta livre profissional praticada pelos participantes da WWE, a World Wrestling Entertainment, principal promotora de eventos do tipo, há um termo que define a mística envolvendo as disputas. No linguajar do meio, “kayfabe” diz respeito a manter a ilusão de que os combates são reais e os resultados, imprevisíveis – mesmo sabendo que são todos roteirizados e treinados à exaustão. Por anos, o “kayfabe” ajudou a criar essa dúvida na cabeça dos fãs e espectadores. “Afinal, não é tudo combinado?”. Agora, um novo documentário lançado pela Netflix escancara de vez os bastidores do wrestling. E, assim, varre o “kayfabe” para baixo do tapete.
Desde que a Netflix assinou um contrato para transmitir os programas da WWE, como o Monday Night Raw e o Smackdown, além dos grandes eventos, como a Wrestlemania e o Summerslam, que acontece no próximo final de semana, o wrestling ganhou uma audiência global e ampliou de forma drástica seu alcance. Com isso, a WWE viu uma oportunidade de reposicionar o wrestling e mostrar o complexo negócio por trás da mistura de esportes e entretenimento.

A história começou com a série Mr. McMahon, que mostrou a trajetória do controverso empresário Vince McMahon, que comandou a WWE entre 1980 e 2022. A série acompanha a evolução da promotora de eventos e mostra como o wrestling se tornou um fenômeno popular. Agora, a nova série WWE: Surreal, que chega nesta terça, 29, à plataforma em cinco episódios, acompanha de forma inédita o que acontece dentro e fora do ringue.
A exemplo de outras produções esportivas da Netflix, como F1: Dirigir para Viver, e Quarterback, a proposta é colocar o espectador dentro da ação. Há cenas que mostram como os lutadores coreografam suas lutas, outras que revelam discussões sobre como os golpes foram aplicados no combate, ou as decisões criativas envolvidas nos arcos narrativos de cada lutador.
Do ponto de vista esportivo e de entretenimento, é tudo muito interessante. Para quem acompanha as lutas, é curioso entender como as histórias de personagens como Rhea Ripley, Cody Rhodes ou John Cena, em sua temporada de despedida, são construídas e adaptadas. De fato, é um olhar inédito sobre o processo, que revela a complexidade do negócio de forma envolvente. Mesmo assim, como em outras produções do tipo, é tudo muito “certinho”, muito controlado.
Mas para os fãs de longa data, não deixa de ser estranho ver a mística ser ignorada de forma tão abrupta. Por décadas, manter a ilusão era parte fundamental da diversão. Tanto que Paul Levesque, diretor criativo da WWE, abre a série falando de como os lutadores nunca se referiam aos outros pelos nomes verdadeiros, apenas pelas alcunhas que usam no ringue. Levesque, na verdade, é o lendário Triple H. Mark William Calaway é o Undertaker. E Terry Gene Bollea é Hulk Hogan. “Mas os tempos mudaram”, diz ele. Será?

Nas redes sociais, qualquer teaser da série documental é acompanhado de comentários que seguem a mesma linha. “Não sei se fico animado ou triste”, diz um espectador. “Preferia que o kayfabe tivesse sido mantido”, escreve outro. Nesse caso, talvez seja melhor assistir apenas ao Raw e ao Smackdown sem saber exatamente o que rola nos bastidores.