Copa com 48 países: jogada política pode comprometer o futebol
Medida aprovada pela Fifa provoca overdose de jogos e causa problemas de logística, mas atende a interesses financeiros e políticos da turma de Infantino
Ao assumir o cargo deixado por Joseph Blatter, chutado da presidência da Fifa por escândalos de corrupção, Gianni Infantino prometeu guiar a entidade e o futebol mundial a um novo caminho de prosperidade e desenvolvimento. Mas, em sua primeira grande decisão, o cartola ítalo-suíço fez lembrar a atrasada turma de Blatter, João Havelange e companhia: a Fifa priorizou a politicagem e a ganância ao aprovar o inchaço da Copa do Mundo, com 48 equipes e 80 jogos.
O Conselho da entidade oficializou nesta terça-feira a maior reforma em quase 100 anos de Copa do Mundo. A partir do Mundial de 2026, ainda sem sede definida, o torneio terá 16 seleções a mais do que o formato atual. A medida, que poderia ser vista como uma valorização de seleções com menor tradição no futebol, na verdade atende apenas a interesses políticos e financeiros da Fifa.
O plano de expandir a Copa do Mundo era uma das promessas de campanha de Infantino – ex-braço de direito do francês Michel Platini, outro cartola banido por escândalos de corrupção, na Uefa. A medida foi aprovada de forma unânime em reunião nesta terça. A própria Fifa admitiu o óbvio: a qualidade do torneio cairá drasticamente, mas priorizou a audiência, o marketing, o apoio político e principalmente o impulso financeiro com a entrada de 16 novos países.
Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, a Fifa pretende lucrar em 2026 35% a mais do que conseguiu na Copa do Mundo no Brasil. Além disso, aumentam as chances de seleções importantes do ponto de vista financeiro, como a China, cujos investimentos no futebol crescem assustadoramente e que não disputa a Copa desde 2002, possam voltar a participar. A medida pode ter agradado alguns países, mas talvez seja um enorme tiro no pé.
Overdose de jogos
A Fifa ressalta que o novo formato, com 16 grupos de três equipes, não vai alterar os principais aspectos organizacionais, como o número de estádios (12), a duração do torneio (32 dias) e o número de jogos dos finalistas (7). No entanto, o número de partidas aumentará de 64 para 80, causando uma overdose de eventos, além de outros inconvenientes.
Atualmente, há no máximo três partidas por dia durante a primeira fase, sendo o jogo de abertura realizado de forma independente. Pelo novo projeto, haverá quatro jogos por dia nos primeiros 15 dias de Copa, causando uma batalha entre emissoras de televisão, incômodo para os telespectadores e enormes desafios à infraestrutura da sede.
Não será nada fácil receber e garantir a segurança e conforto de 48 seleções e seus torcedores. Até por isso, e em mais uma tacada política de Infantino, a Fifa já discute a possibilidade de dois ou mais países organizarem uma Copa, como ocorreu em 2002, com Coreia do Sul e Japão.
Pelo novo formato, avançarão os dois melhores de cada um dos 16 grupos. A partir daí, as fases seguintes, com 32 equipes, serão em mata-mata. Isso causará novos problemas, como maior desequilíbrio entre os dias de descanso entre as seleções e a impossibilidade de disputas simultâneas na última rodada da fase de grupos – atualmente, todos os jogos que definem cruzamentos são realizados no mesmo dia e horário, para tentar acabar com resultados “combinados” e, assim, fugir de determinado adversário.
Para evitar novos “jogos de compadres”, como já ocorreu em Copas, existe ainda a possibilidade de as partidas da primeira fase jamais terminarem em empate – neste caso, o vitorioso seria definido por pênaltis, como nos jogos de mata-mata. A mudança causa ainda uma preocupação final: com a expansão do número de participantes, as Eliminatórias para a Copa continuarão tendo emoção? Atualmente, apenas as quatro primeiras seleções da América do Sul garantem vaga direta no Mundial. Com o novo formato, o número subiria para seis. Melhor para o Brasil? Talvez. Para o futebol? Provavelmente não.