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Esporte

Sorocaba, capital do futsal

Como um ambicioso projeto do craque-cartola Falcão transformou a cidade do interior paulista em potência da modalidade

por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 out 2017, 17h45 - Publicado em
27 out 2017
12h21

A genial perna esquerda já não tem a mesma força e velocidade, mas Alessandro Rosa Vieira, 40 anos, segue mais ativo do que nunca. Há cerca de quatro anos, o craque que revolucionou o futsal mundial deu um passo empresarial mais ousado que qualquer drible desconcertante, daqueles de deixar o adversário caído: criou o “time do Falcão” na cidade que escolheu para morar, Sorocaba, município paulista com mais de 600.000 habitantes, repleto de grandes empresas e a menos de 90 quilômetros da capital, onde Falcão nasceu. O camisa 12 segue em atividade – e com o poder de decisão intacto, como comprovou no último domingo, na dramática conquista da Liga Paulista, diante do Corinthians. Também atua como gestor, como garoto-propaganda e o que mais o clube precisar. Além dele, o elenco tem estrelas de nível internacional, como os veteranos Tiago, Rodrigo e Neto, o jovem Leandro Lino e o treinador Fernando Ferretti. De contrato renovado com a patrocinadora Magnus, uma bela arena e uma torcida cada vez mais fanática, Falcão encontrou o cenário perfeito para preparar sua aposentadoria (dentro) das quadras. “Mas ainda tenho lenha para queimar”, garantiu o melhor jogador de futsal de todos os tempos, abraçado aos filhos, após mais um título.

Em menos de quatro anos de vida, o Sorocaba já conquistou a Liga Nacional (2014), a Libertadores (2015) e o Mundial de Clubes (2016), entre outros  títulos. “Foi uma ideia minha que se tornou um enorme sucesso”, conta Falcão. O projeto nasceu de um dos vários jantares com patrocinadores. “Quando conheci o Falcão ele me contou que queria montar um time em Sorocaba. Colocamos a ideia no papel e logo de cara a empresa topou”, disse Fellipe Drommond, presidente do clube – é CEO da TFW, a agência de marketing que gere o clube. A empresa era a Brasil Kirin, primeira marca a batizar o time, que então atuava de vermelho e branco. A parceria se encerrou em 2015, quando a Kirin passou por uma crise e cortou investimento no futsal. Imediatamente, a Magnus, marca de alimentos para cães e gatos da região, do grupo Adimax, se interessou pelo negócio e apostou pesado. A meta era espalhar camisas em amarelo e preto por todos os lugares, sempre com o número 12 às costas.

“O primeiro ano foi um grande sucesso. Muita gente já relaciona a marca com o ‘time do Falcão’”, contou Rodrigo Luporini, gerente de marketing esportivo da Magnus. “Somos uma plataforma de comunicação que tem um time e não o contrário”, explica Drommond, que já ampliou a parceria até 2021. Sob a gestão da Magnus o clube celebra um de seus principais patrimônios, a Arena Sorocaba. No início, a obra bancada pela prefeitura da cidade, localizada no km 106 da Rodovia Raposo Tavares, deu muita dor de cabeça: em 2014, o teto do ginásio despencou em um grave acidente que atrasou em dois anos a estreia da arena. Nesse período, o time atuava em cidades próximas, como Paulínia e Itapetininga, o que causou danos financeiros e até uma “crise de identidade.”

“Os primeiros anos foram mais difíceis, apesar dos títulos”, admitiu o campineiro Rodrigo Hardy, capitão do time e da seleção brasileira, apelidado de “Torpedo Humano”, pela força de seu chute. A arena com capacidade para pouco mais de 4.000 pessoas foi inaugurada em outubro de 2016, está sempre cheia, e os ingressos custam 10 reais (o preço dobra em jogos decisivos). “A maioria dos clubes não cobra entrada, mas decidimos estipular um valor, quase simbólico, para mostrar que nosso trabalho é profissional. Temos de valorizar o futsal”, afirma Drommond. No último fim de semana, o time comemorou seu primeiro título em sua casa.


Galeria: as mil faces de um gênio

No Sorocaba, Falcão é muito mais do que um pé esquerdo de talento inigualável. É o idealizador, gestor e garoto-propaganda do clube. E, como fez no clássico diante do Corinthians, pode também ser auxiliar, psicólogo, goleiro, regente de torcida – e, em caso de aperto, até segurança de ginásio.

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Não é exagero dizer que Falcão se tornou maior que o próprio futsal. Sua habilidade e forma irreverente de jogar, aliadas ao poder de decisão e sua inteligência para vender seu “produto”, o transformaram em um fenômeno de mídia. Compilados de suas “lambretas”, gols e bolas entre as pernas de adversários estão entre os vídeos de esporte mais vistos do YouTube. “Imagine se já existissem redes sociais no meu auge”, brinca. Cristiano Ronaldo e Diego Maradona foram alguns dos “fãs” que o tietaram em cerimônias da Fifa nos últimos anos. O craque do futsal e dos negócios cumpre uma agitada agenda que inclui eventos por todo o Brasil e em países como Índia, Líbano e Estados Unidos. Os compromissos – e também a inevitável fragilidade física de um quarentão – o mantêm afastado de diversos treinos e jogos, especialmente no primeiro semestre. Nada que abale sua imagem com os companheiros. “Ele é muito respeitado no grupo, todos sabem que ele tem viagens, eventos, e treina menos… Ninguém ousa questionar isso. Todos têm uma admiração muito grande”, conta Drommond.

Além do clube, Falcão tem negócios no ramo imobiliário, escolinhas de futsal por todo o país e uma série de investimentos. Sem falsa modéstia, diz ser autodidata. “Aprendi tudo sozinho. Nunca me formei, mas  um cara com dez faculdades não tem o conhecimento que tenho.” Além de gerir seu próprio clube, Falcão vem tomando frente nas mudanças na modalidade. Depois de denunciar casos de corrupção e falta de estrutura na Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS), decidiu retornar à seleção sob a nova gestão, na qual atua também como uma espécie de embaixador. Ele acredita que a modalidade praticada por mais de 14 milhões de brasileiros ainda tem muito a crescer. “O futsal ainda não se vende tão bem, mas tem um potencial muito grande. É relativamente barato e dá retorno.” 


Para assistir ao vídeo em 360º em celulares com sistema operacional iOS, é necessário ter instalado o aplicativo do YouTube. Feita a instalação, clique aqui.

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Salários, viagens, base… Como montar um time de futsal

O Magnus Sorocaba tem hoje um dos times de futsal mais caros do mundo. Além da marca de ração, o time tem outros patrocinadores, que ajudam a manter as contas em dia. O custo anual da equipe varia entre 5 a 6 milhões de reais no projeto total, que inclui salários, moradia (todos os atletas vivem em Sorocaba), viagens e outras despesas – no futsal, o clube mandante deve bancar arbitragem e a segurança nas partidas. Os atletas juvenis ganham uma ajuda de custo; jogadores consagrados, com passagem vitoriosas por seleção, recebem de 20.000 a 30.000 reais mensais – Falcão, claro, ganha muito mais, por causa de seus patrocinadores pessoais. Jogadores de destaque, mais jovens, recebem entre 10.000 e 20.000 reais, e as revelações têm salários de menos de 5.000 reais.

Os valores ainda estão um pouco abaixo das potências europeias – o Inter Movistar e o Barcelona, da Espanha, são os mais badalados. “O que faz diferença é a moeda. Um euro vale hoje quase quatro reais, então é muito melhor ganhar 5.000 euros lá do que 10.000 reais aqui”, diz Neto, ala que atuou por grandes clubes da Espanha e da Rússia. Aos 36 anos, o autor do gol do título mundial da seleção em 2012, ano em que foi eleito o melhor jogador do mundo, superou um grave drama pessoal: em agosto, se curou de dois tumores, um no cérebro e outro no pulmão, e voltou a jogar – em altíssimo nível.

O Sorocaba tem outro importante diferencial: investe em categorias de base desde o sub-10. Recentemente, o time anunciou em suas redes sociais, de forma despretensiosa, uma “peneira” – sua página no Instagram tem mais de 90.000 seguidores. “Para nossa surpresa, apareceram 1080 garotos de todo Brasil, foi maravilhoso”, contou Drommond. Entre todas as categorias, o time tem mais de 100 atletas federados e todos jogam com o mesmo uniforme, com a figura do cachorro da marca em destaque.

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A equipe também conta com apoio da Prefeitura, que cede a Arena Sorocaba e uma quantia não revelada por meio do programa Fadas (Fundo de Apoio ao Desporto Amador Sorocabano). A meta de Falcão e dos outros gestores é aproveitar o potencial da cidade e depender cada vez menos dos parceiros. “Estrategicamente, Sorocaba tem potencial para sustentar esse projeto. Temos a segurança do patrocinador, mas agora pensamos em como tornar esse projeto autossustentável. Queremos que a Arena se torne um polo comercial da região e possa garantir a existência da equipe. Esse é nosso grande desafio”, diz Drommond. Na Liga Nacional de 2017, o time está nas quartas de final – perdeu o jogo de ida nesta quinta para o Assoeva, em Venâncio Aires (RS), e na próxima segunda-feira terá de reverter o resultado na Arena Sorocaba.


Entrevistas

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Aprendi tudo sozinho, sempre tive de discutir meus contratos. Nunca me formei, mas pode ter certeza que alguém com dez faculdades não tem o conhecimento que tenho sobre como montar um time de futsal..”
Falcão, o craque-cartola
Rodrigo, jogador de futsal do Sorocaba
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A cidade abraçou o projeto, o ginásio costuma lotar, vemos crianças com a camisa do time nas ruas, isso eleva o nome da cidade. Já temos um bom time de basquete e agora o de futsal, com um grande investimento.”
Rodrigo, o ‘Torpedo Humano’
Neto, jogador de futsal do Sorocaba
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Recebi o convite do Falcão e decidi vir para cá com um propósito bem maior. Só estar em quadra já era uma vitória. Agradeço muito ao Sorocaba por ter me aberto as portas e por me sentir jogador profissional novamente.”
Neto, o símbolo de superação
Eder, jogador de futsal do Sorocaba
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Tive propostas da Europa, mas a estrutura aqui é excelente, a cidade respira o futsal, nas ruas as pessoas reconhecem seu trabalho. Na Rússia, mesmo depois de 11 anos no país, não sentia esse carinho.”
Eder Lima, o ‘matador russo’
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