O gigantesco impacto da pandemia na educação básica
Dados do Saeb e do Ideb 2021 foram divulgados nesta sexta-feira, 16
Para medir a riqueza de um país no tempo presente, olhe para o seu PIB. Mas se a preocupação é com horizontes mais dilatados, a tarefa de casa que se faz obrigatória é examinar os indicadores da educação, um termômetro da capacidade de formar gerações preparadas para dar aquele salto que todos tanto ambicionam. Pois neste rol, frequentemente posto no escaninho dos assuntos secundários, o Brasil não apenas não abandona o pantanoso terreno das notas vermelhas, que deixa o país atolado na rabeira dos rankings internacionais, como piora. É isso mesmo.
Dados divulgados hoje pelo Ministério da Educação (MEC) mostram o tamanho do tombo dos estudantes brasileiros na difícil jornada que tentam trilhar em busca de uma educação de qualidade. Não teve sequer um indicador que não tenha sentido o impacto da de Covid-19 nos últimos dois anos. “As adaptações da educação no período de pandemia impuseram desafios a aprendizagem de qualidade. Mais de 90% das escolas de educação básica adotaram estratégias de mediação remota e híbrida”, comentou Rubens Campos de Lacerda Júnior, Diretor de Avaliação da Educação Básica Substituto do Inep.
Os alunos em fase de alfabetização foram os mais prejudicados. As avaliações do 2º ano do ensino fundamental mostram que o percentual de estudantes, que têm por volta de 7 anos, que ainda não sabem ler palavras isoladas subiu de 15% para 34% em relação ao último censo, em 2019. Aqueles que não têm capacidade para somar ou subtrair correspondem a 22% dos discentes, contra 16% há dois anos. “Não estamos surpresos. O processo de alfabetização demanda uma relação presencial. O nível de crianças-leitoras já era muito ruim, mas agora está alarmante. Elas precisam ser prioridade da educação para reverter essa lacuna de aprendizado”, afirmou a VEJA Daniela Caldeirinha, Diretora de Alfabetização na Fundação Lemann.
O resultado das provas aplicadas para o 5º ano do ensino fundamental revelou que 23% dos alunos, mesmo entre os que sabem ler, não compreendem sentidos de palavras e expressões em textos. A proficiência média caiu 7 pontos em comparação com o último Saeb. Na área da matemática, 21% não sabem nomear figuras geométricas básicas, como círculos, triângulos e quadrados.
No ano final do ensino fundamental, chama atenção a concentração de alunos que não puderam ser avaliados, uma vez que suas habilidades são mais básicas do que o teste é capaz de aferir. Tanto em Língua Portuguesa como em Matemática, esse grupo soma 14%.No ensino médio, onde há menor adesão dos alunos às provas do MEC, a proficiência média caiu em todas as áreas (Matemática, Língua Portuguesa, Ciências Humanas e Ciências da Natureza).
Os número do Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira surpreendeu os especialistas no tema. Isso porque houve pouca variação em relação ao ano pré-pandêmico. O Ideb avalia, alem do desempenho do Saeb, o rendimento dos estudantes, o que inclui taxa de reprovação e abandono. Mas, ao que tudo indica, os números foram amenizados. “O sistema de aprovação automática, somado à dificuldade de monitorar o abandono de alunos nas aulas online, resultou em um índice artificial”, explicou a VEJA João Marcelo Borges, gerente de pesquisa e inovação do Instituto Unibanco.
No total, 250 mil turmas de 800 mil escolas no país participaram do levantamento. 5,3 milhões de estudantes estiveram presentes.