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Nas favelas do Rio, só sete dias letivos sem tiroteios

A tensa rotina de pânico, incerteza e prejuízo imenso para a aprendizagem

Por Luisa Bustamante Atualizado em 30 jul 2020, 20h41 - Publicado em 7 jul 2017, 20h09

Em caso de troca de tiros, siga-­se o protocolo: 1) professores e alunos saem de perto das janelas e se abaixam; 2) abaixados, seguem em fila para a porta da sala de aula; 3) dirigem-­se aos “pontos seguros”, previamente estabelecidos, e lá permanecem sentados no chão; 4) ninguém sai para a rua até que a segurança seja restabelecida. Essas poderiam ser orientações para o cotidiano de escolas na Síria, no Congo, no Iêmen, mas não. São recomendações da Cruz Vermelha Internacional para o dia a dia nas favelas do Rio. Ao longo de 101 dias deste ano letivo, em apenas sete os colégios funcionaram em paz. A situação chegou a tal nível de insegurança que, a pedido da prefeitura, a própria Cruz Vermelha Internacional — com a experiência de atuação em zonas de conflito em todo o mundo — dará, nesta semana, um treinamento a professores acerca do conjunto de normas a ser seguidas sob a mira dos tiros.

A reportagem de VEJA visitou escolas em quatro favelas que são terra de bandidos. Viu e ouviu o terror cotidiano, narrado em tom de desesperança. Em uma escola da Maré, às margens da Avenida Brasil, bocas de fumo negociam sua mercadoria a menos de 20 metros do portão, tudo sob a vigilância de traficantes portando fuzis. No Complexo do Alemão, antes uma vistosa vitrine do projeto de pacificação, o colégio visitado já teve até de fechar por ordem do tráfico no dia do enterro de um bandido. Na Cidade de Deus, a diretora coleciona cápsulas de bala. Do outro lado da cidade, em Acari, a escola em que morreu Maria Eduarda Ferreira, a Duda, de 13 anos, atingida por uma bala perdida na aula de educação física, também é colada a uma boca de fumo; a rua, ao lado de um canal imundo (o “valão”), é rota de carga roubada.

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