As melhores escolas e universidades de ensino a distância
Atualmente, apenas 11 instituições de EAD fazem parte do seleto grupo com nota máxima no MEC; saiba quais são e aprenda a escolher os melhores cursos
Vinicius Athouguia Gama, 29 anos, jamais pensou em parar de estudar. Engenheiro elétrico formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, queria aprender mais, aventurar-se por novas áreas e se tornar um profissional mais bem qualificado. Quando decidiu começar a colocar o plano em prática e iniciar um MBA, no entanto, esbarrou no calendário. Gama trabalha para a Petrobras e passa metade dos meses embarcado em navios ou plataformas de petróleo no meio do oceano, a centenas de quilômetros de uma sala de aula.
Depois de tentativas frustradas em busca de um curso que se adequasse à sua agenda, descobriu que poderia facilmente transpor a barreira geográfica usando computador e internet sem abrir mão da qualidade de uma renomada e bem avaliada instituição de ensino. Optou por um MBA a distância na Fundação Getúlio Vargas.
“Consigo ajustar as atividades presenciais à minha rotina, assisto às aulas e faço as tarefas online em casa ou quando estou embarcado. Tenho flexibilidade para fazer meu próprio horário”, diz Gama, que terminou um MBA em gerenciamento de projetos no ano passado e já está cursando outro em gestão empresarial.
Gama escolheu uma das instituições com ensino a distância mais conceituadas do país. A Escola de Administração de Empresas da FGV, de São Paulo, atingiu os conceitos máximos na avaliação do Ministério da Educação (MEC). Nesta semana, um grupo seleto de 11 entidades tinham essa nota máxima.
O MEC usa dois critérios básicos para avaliar as faculdades: o Índice Geral de Cursos, que é a média ponderada das notas dos cursos de graduação e pós-graduação de cada instituição, e o Conceito da Instituição (CI), que é a avaliação in loco da entidade de ensino feita por especialistas do ministério. Para cada um deles é atribuído uma nota de 1 a 5. Escolas com conceitos iguais ou superiores a 3 são consideradas de boa qualidade. Especialistas alertam que é importante verificar também a nota do curso no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) antes de escolher em qual se matricular.
Mas, no dia a dia, o que essas instituições têm como diferencial? Boas ferramentas tecnológicas, corpo docente de qualidade, muito interação com os alunos, preparação cuidadosa do conteúdo e da estrutura do curso são detalhes que saltam aos olhos de quem optou por uma delas.
Gama ficou impressionado com a qualidade dos professores da FGV. “Tivemos aula com um uruguaio que havia acabado de sair de um curso em Harvard [universidade americana que está entre as mais conceituadas do mundo]. Foi muito enriquecedor”, diz.
Mary Murashima, professora e diretora de soluções do Instituto de Desenvolvimento Educacional da FGV, ressalta também a preocupação da instituição em criar um modelo de educação a distância em que o aluno não se sinta solitário.
“Há muitos cursos em que não há um conceito de turma. Investimos em modelos para fortalecer a interação. Tentamos gerar comunicação o tempo inteiro entre os alunos, os professores e os tutores presentes no ambiente virtual para tirar dúvidas”, explica.
Apaixonada por literatura, Patrícia Cardoso Dias, formada pela Fatec em tecnologia em automação de escritórios e secretariado, queria estudar letras para aprimorar seus conhecimentos. Aos 44 anos, havia feito o Enem e sido aprovada em uma faculdade em Diadema (SP), mas avaliou que um curso a distância seria mais adequado para sua agenda. Escolheu a Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais, por indicação da irmã, sem saber que era um das mais bem avaliadas pelo MEC.
“O material de estudos é muito bom. Também gostei da forma como o curso é estruturado, com apenas uma disciplina por mês, o que permite um aprofundamento e uma fixação maiores”, afirmou.
Já Danila Di Pietro Zambianco, 40 anos, educadora formada em letras, havia gostado de uma experiência com EAD que teve durante uma pós-graduação. Quando decidiu estudar pedagogia, optou pela modalidade. Também escolheu a Ufla, porque procurava uma instituição pública de qualidade.
“Se fosse fazer outra graduação, certamente a Ufla seria considerada. Apreciava a diversidade de propostas das tarefas: resumo, fórum, produção de pesquisa, vídeos, momentos presenciais com diversos objetivos. Fomos expostos a muitas linguagens, o que ajudou a ampliar nosso repertório didático. Foi uma rica contribuição para nós que éramos, na época, futuros professores”, afirma.
O professor Cleber Carvalho de Castro, diretor de EAD da universidade, explica que as atividades virtuais variam de curso para curso e conforme o perfil das disciplinas.
“Todas as disciplinas são planejadas com antecedência, envolvendo uma ampla equipe”, diz. “Na construção dos TCCs, há docentes orientadores que acompanham o desenvolvimento dos alunos individualmente. Nas aulas, há a disponibilização de guias de estudo, vídeo-aulas, estudos de caso e outros recursos educacionais e materiais complementares no Ambiente Virtual de Aprendizagem”, completa o professor.
A maior parte dos cursos online oferecidos por faculdades públicas é gratuita. Muitos estão vinculados à Universidade Aberta do Brasil (UAB), sistema criado pelo governo federal para desenvolver o EAD e expandir e interiorizar a oferta de educação superior no país. O modelo da UAB pressupõe que, além de aulas virtuais, as universidades criem pólos físicos, instalados preferencialmente em municípios de porte médio, para suporte acadêmico e administrativo.
“Os alunos podem se deslocar para lá para fazer atividades, usar o laboratório, o computador, organizar grupos de discussão e estudos, de acordo com suas necessidades e com as dos seus cursos. Nossas pesquisas indicam um nível baixo de descontentamento dos alunos. Acreditamos que esse modelo se aproxime do ideal para o EAD”, diz Lovois Miguel, secretário de ensino a distância da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que tem nota 5 no IGC e 4 no CI.
No ano passado, o ministério atualizou as normas que regem os cursos a distância visando ampliar a oferta de ensino superior no país. Uma das flexibilizações permite o credenciamento de instituições de ensino superior (IES) para EAD sem a necessidade de oferta de cursos presenciais. Outra novidade é possibilidade imediata de criação de pólos de EAD longe das sedes pelas instituições já habilitadas — antes, os pedidos de abertura eram analisados pelo MEC.
Qualidade
Especialistas apontam que a EAD permite o acesso ao ensino superior de pessoas que antes estavam excluídas desse nível de educação. Alertam, no entanto, que é preciso estar atento à qualidade desse cursos.
Estudo de Carlos Eduardo Bielschowsky, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente do Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro, mostra que nos últimos dois anos pode ser notada uma queda nas notas de EAD em relação aos cursos presenciais, o que não acontecia antes, principalmente nas instituições que oferecem cursos em larga escala e concentram a maioria das matrículas.
“É muito difícil aceitar diferenças significativas entre o desempenho dos alunos dos cursos presenciais e de EAD destas instituições de ensino. Não dispomos, no momento, de elementos técnicos detalhados da oferta que permita analisar quais são os motivos destas diferenças”, afirma o professor, que sugere que seja feita uma avaliação da oferta de EAD nas instituições para investigar suas fragilidades.
Quando divulga os conceitos do Enade, o MEC usa uma escala de 1 a 5, que é um arredondamento das notas, conhecido como Enade discreto. De 2015 para 2016, a média ponderada geral do Enade no país para cursos presenciais oscilou de 2,48 para 2,45 — conceito 3. Já as notas de EAD desceram de 1,84 para 1,54. Esses cursos continuam a figurar com conceito 2, mas registraram uma queda importante de desempenho.
“Recomendo aos interessados que não se inscrevam em cursos com conceito Enade discreto 1 ou 2 e tenham cuidado com cursos com conceito 3, pois alguns também apresentam fragilidades. Além disso, tentem encontrar estudantes e perguntar se estão tendo que se dedicar aos estudos. Se a resposta for do tipo ‘não, é fácil’, desconfie, pois fazer um curso de graduação de qualidade aceitável requer dedicação”, afirma Bielschowsky.
Ex-presidente da Universidade Virtual de São Paulo (Univesp), do governo do Estado, a professora doutora Maria Alice Carraturi ressalta que é preciso estar atento à qualidade do que é ofertado e não só ao valor das mensalidades.
“Quando se faz material padronizado, sem diferenças regionais, sem diferenças individuais, o nivelamento passa a ser o de conteúdos mínimos, com baixo nível de exigência para atingir alunos de norte a sul, de leste a oeste, como se todos os tivessem o mesmo nível de conhecimento e condições de aprendizagem”, diz.
“A EAD, para atender a muitos, precisa ser pensada e feita de forma a garantir a aprendizagem diversificada dos alunos, deve ter metodologia própria e não copiar o que se faz no presencial. É preciso ter especialistas em EAD que estejam muito atualizados e possam orientar os processos. Assim, o cuidado para um crescimento consistente deve se concentrar na atenção ao atendimento ao aluno, o que envolve tecnologia, tutoria, pólo e melhor metodologia”, completa.