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Zumbis da série ‘All of Us Are Dead’ são nova sensação coreana da Netflix

Série usa os mortos-vivos para criticar, com muito sangue e ironia, a nem sempre saudável obsessão do país asiático pela educação

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h12 - Publicado em 29 jan 2022, 08h00

Dentro de um ônibus escolar nas imediações de Seul, um professor alerta os estudantes sobre o que os espera lá fora. Ainda que se esforcem no limite de suas forças, sentencia com dureza, eles não conseguem ser mais que alunos medíocres, e cedo se verão diante do maior dos horrores para um jovem na Coreia do Sul — falhar na admissão em uma universidade. A humilhação segue até o ônibus chegar ao Colégio Hyosan, e então seus ocupantes serem engolfados na balbúrdia de All of Us Are Dead. A série sul-coreana, já disponível na Netflix e baseada em um mangá on-line, fala de um vírus criado no laboratório por um docente e que se espalha dos corredores à quadra esportiva, convertendo quem é mordido pelos infectados em zumbis. Isso significa quase 100% do corpo estudantil, à exceção de uns gatos-pingados liderados pelo valente Chung-san (Chan-Young Yoon), além de outros núcleos erráticos que tentam sobreviver ao vírus — o qual logo sairá das salas de aula de Hyosan para assombrar a península coreana.

O Guia de Sobrevivência a Zumbis

Do caos contemporâneo do filme Invasão Zumbi aos maneirismos de época da série Kingdom, as tramas de mortos-vivos compõem um substrato de óbvia serventia para aquilo que os criadores da Coreia do Sul exploram como ninguém: a crítica social de problemas locais, mas alcance global. Nos doze episódios de All of Us Are Dead, os comentários sobre a natureza humana são igualmente amplos. Se em produções clássicas os zumbis encarnam o conformismo, aqui — com a ajuda do truque de apresentar certos personagens em estado intermediário entre monstruosidade e consciência — eles se revelam o retrato de uma sociedade regida pelos baixos instintos.

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Mas é pelo mergulho no mundo escolar, abordando do bullying à pressão por bom desempenho, que a série soma algo novo a um gênero tão batido que ela mesma não se cansa de parodiar (e ao qual traz lampejos brilhantes, como o embate quase épico de Chung-san com zumbis na biblioteca). A escola é obsessão dos coreanos: a formação afeta do casamento ao emprego, e até os altamente qualificados temem o desalento. “A educação gera honra”, diz um outdoor de relance em cena. Não há dúvida de que essa fixação trouxe progresso extraordinário ao país asiático. Mas, pelo visto, deixa mortos-vivos pelo caminho.

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Publicado em VEJA de 2 de fevereiro de 2022, edição nº 2774

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