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Yoko, terapia e Vietnã: a virada de John Lennon que deu origem à ‘Imagine’

Música que completa 50 anos nesta quinta-feira foi feita em um período de transição do ex-Beatle

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 set 2021, 18h36 - Publicado em 9 set 2021, 11h20

Composição incontornável da história da música, Imagine completa nesta quinta-feira, 9 de setembro, 50 anos de seu lançamento. A faixa, apelidada de hino da paz, é parte do disco de mesmo nome, gravado em 1971 por John Lennon em parceria com sua esposa, Yoko Ono — que em 2017 foi creditada como co-autora da canção.

Para além de ser um apelo convocando a união de todos os povos, Imagine é fruto de uma virada na vida pessoal e profissional do ex-Beatle, que passou por uma intensa transição entre sua saída do grupo e a produção do disco.

O ano de 1969 foi crucial para esse processo. Em março daquele ano, ele se casou com Yoko, sua nova parceira criativa — hoje redimida da fama de ter sido a peça que acabou com o grupo. Em agosto, Lennon gravou Abbey Road, último disco feito pelo quarteto de Liverpool — eles lançaram depois Let it Be, que foi produzido antes de Abbey Road. Por questões contratuais, a banda não avisou naquele período que iria acabar. Isso até Paul McCartney anunciar sua carreira solo, no começo de 1970, pouco depois de Let it Be, deixando claro que os Beatles haviam chegado ao fim.

Em 1970, Lennon e Yoko passaram meses em um processo de tratamento psicológico controverso. Tratava-se da terapia primal, também chamada de terapia do grito. Nela, os pacientes são estimulados a gritarem a raiva reprimida pelos traumas da infância. No caso do músico, ele queria se livrar do ódio de ter sido abandonado pelos pais quando criança – sendo criado por um casal de tios. A experiência resultou no disco John Lennon/Plastic Ono Band, seu primeiro álbum solo pós-Beatles.

Em 1971, o casal se muda para Nova York, onde Lennon passa a se interessar por política, especialmente pelos movimentos pacifistas, contra a vigente Guerra do Vietnã. Para levar seu lado ativista aos fãs acostumados com as canções açucaradas do quarteto, Lennon escreveu Imagine, uma canção-protesto pop e serena, decisão artística que trazia consigo a missão de alcançar o máximo possível de ouvintes. “Imagine é anti-religião, anti-nacionalismo, anti-convenções, anti-capitalista, mas foi bem recebida por ser ‘açucarada’”, disse Lennon.

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A inspiração inicial para a composição veio do livro de arte conceitual de Yoko Ono Grapefruit. Nele, a artista escreveu sobre situações poéticas imaginárias, como “imagine as nuvens derretendo”. Outra influência veio de teorias dignas de um coach do século XXI: o pensamento positivo e o poder da atração. Imaginar um mundo de paz seria, então, o primeiro passo para atrair a ideia e abrir espaço para implementá-la.

Imagine cumpriu a missão de alcançar os mais diversos ouvintes. Mas demorou. Nos Estados Unidos, apesar de ser um sucesso instantâneo, foi também muito criticada por aqueles que acusavam Lennon de hipocrisia, já que ele era um milionário cantando sobre desapego. Na Inglaterra, seu país de origem, a faixa só chegou de fato às mais ouvidas em 1981, com a morte de Lennon. Não há dúvidas, porém, que Imagine só aumentou sua popularidade desde o lançamento. Hoje, na celebração de seus 50 anos, ela se faz mais atual e urgente do que nunca.

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