Wordle, o jogo que é novo fenômeno da internet
Lançado há apenas três meses, o programa desafia jogadores para que decifrem vocábulos. A versão em português também virou febre
Forca, Stop, Palavras Cruzadas, Soletrando… Em meio à pandemia de Covid-19, os jogos de vocábulos, analógicos e digitais, ressurgiram no auge do confinamento e ganharam espaço na rotina das pessoas, ocupando os longos tempos mortos e tornando-se novamente muito populares. Uma das razões apontadas por especialistas foram os benefícios desse tipo de entretenimento para a higiene mental, embora seus reais efeitos ainda sejam tema de debate entre os cientistas. Na esteira dessa tendência, um novo passatempo envolvendo a adivinhação de palavras começou a fazer sucesso na internet no fim do ano passado. Criado por um programador britânico que vive em Nova York, o Wordle se espalhou como um rastilho de pólvora entre os internautas que dominam ou que são nativos em inglês. Em questão de semanas, foi traduzido para outras línguas, inclusive o português, e mostrou-se igualmente viciante.
O joguinho é simples e fácil. O objetivo é adivinhar uma palavra de cinco letras em até seis tentativas. A cada uma delas, o programa mostra, por meio de um sistema de cores, quais letras fazem parte da expressão e estão na posição certa, quais fazem parte, mas na posição errada, e aquelas que devem ser descartadas, como o clássico jogo Senha, de pecinhas coloridas. Ao fim, o jogador tem a possibilidade de compartilhar sua performance nas redes sociais e saber quanto tempo vai levar para o sistema apresentar um novo enigma, que surge a cada 24 horas. Não é necessário cadastro, não há publicidade envolvida e nem um sistema de notificações para atormentar. Um sonho em um ambiente pródigo em recursos para atrair os usuários de volta aos sites e aplicativos.
Há uma história de amor por trás do fenômeno. Josh Wardle, que já trabalhou no agregador Reddit, criou o Wordle — uma brincadeira com o seu sobrenome — para a namorada, Palak Shah, durante um dos picos da pandemia nova-iorquina. O que era uma pequena diversão a dois acabou no grupo de mensagens da família e, em 1º de novembro do ano passado, ganhou um site (www.powerlanguage.co.uk/wordle). A adesão dos internautas foi imediata, partindo de noventa jogadores nos primeiros dias para mais de 300 000 logo após a virada do ano. Nesse processo, Wardle notou que um usuário da Nova Zelândia usava emojis para mostrar a evolução de suas tentativas nas redes sociais. No fim de 2021, o engenheiro lançou uma alternativa para permitir que os jogadores compartilhassem suas conquistas sem dar spoiler da palavra do dia. Foi quando o jogo explodiu.
No começo, os brasileiros tiveram que se contentar com o Wordle em inglês. Na primeira semana de janeiro, porém, o paulistano Fernando Serboncini, gerente de engenharia do Google que mora no Canadá há cinco anos, lançou o Termo (https://term.ooo). Serboncini diz que jogos de palavras desenvolvidos por programadores independentes nunca são lançados em português porque nos falta um dicionário de qualidade em código aberto para compilar as palavras. “Achei que essa poderia ser a oportunidade de resolver esse problema”, disse a VEJA. “Daí, construí um dicionário e desenvolvi o jogo.” Atualmente, 175 000 pessoas jogam todos os dias a versão em português, a maior parte no Brasil. Ao todo, mais de 2 milhões de jogos foram completados.
O brasileiro Rodrigo Calloni faz parte dessa estatística. Morando nos Estados Unidos há treze anos, o bibliotecário e especialista em visualização de dados começou a jogar Wordle antes de descobrir o Termo. Ele conta que conheceu o passatempo quando a filha de 7 anos, que tem necessidades especiais em razão de um traumatismo craniano, pegou Covid-19 e ambos ficaram isolados na casa onde moram, em Silver Spring. “Entre um cochilo e outro dela, que fica muito cansada quando tem uma convulsão, acabo brincando com o joguinho”, diz ele. “Tenho uma sensação de gratificação num momento, por cinco minutos que seja, de fuga da realidade.” A cultura das redes sociais de que é preciso absorver o maior tempo possível das pessoas não cabe nesses jogos. Talvez o fato de não exigirem tanto de quem joga explique o seu sucesso.
Publicado em VEJA de 26 de janeiro de 2022, edição nº 2773