Sebastião Salgado revela momento dramático que quase encerrou sua carreira
Na abertura de exposição dedicada à Revolução dos Cravos, fotógrafo brasileiro relatou a descoberta de um ferimento antigo que poderia ter mudado sua vida
Em abril de 1974, a Revolução dos Cravos colocou fim à ditadura salazarista que dominava Portugal havia quatro décadas. Passados cinquenta anos, o cultuado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado inaugura nesta sexta-feira, 10, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, uma exposição com curadoria da esposa Lélia Salgado que traz fotos inéditas produzidas por ele na cobertura do momento histórico, ainda no início da carreira. Na coletiva de abertura à qual VEJA esteve presente, Salgado revelou um drama enfrentado naquela época que poderia ter encerrado sua jornada na fotografia antes dela decolar: uma fratura na coluna cervical causada pela explosão de uma mina em Moçambique, durante a Guerra Colonial Portuguesa.
Naquela época, Salgado fotografou a efervescência dos dias que se seguiram à Revolução dos Cravos, e também partiu para as colônias portuguesas na África para registrar a luta dos países por independência. Segundo o relato, ele estava em um caminhão militar no norte de Moçambique quando o veículo explodiu em uma mina, em meio a ataques do exército português e da guerrilha da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). “O chofer foi pulverizado, não se encontrou nada dele. O oficial português que estava do outro lado do caminhão perdeu as duas pernas. Eu fui projetado e senti uma dor forte na minha cervical, mas eu era jovem, tinha 30 anos, e logo me adaptei àquilo”, relatou o fotógrafo, que consultou um médico ao retornar a Paris e soube que havia “machucado um pouco” a cervical e, por isso, poderia desenvolver artrose na velhice.
Foi só há alguns dias, no entanto, ao visitar um especialista para tratar dores intensas na cervical, que o fotógrafo de 80 anos descobriu que o machucado antigo, na verdade, era uma fratura que poderia ter encerrado sua carreira. “O médico falou ‘Sebastião, você teve uma sorte imensa que a sua vértebra quebrou na parte frontal da coluna. Se tivesse quebrado na parte traseira, a partir daquele momento você estaria em uma cadeira de rodas”, contou ele. “Só descobri há três semanas que eu pude continuar a minha vida na fotografia [por uma sorte imensa]… se não, ela teria sido interrompida naquele momento. Como eu, em uma cadeira de rodas, poderia fotografar? Seria complicado”, atestou ele — que, ao longo da vida, fez expedições longevas em áreas remotas e de difícil acesso em todo o mundo.
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