Rococó amazônico: os excessos da minissérie ‘Dois Irmãos’
As imagens são deslumbrantes, e as atuações, excelentes. Mas o preciosismo cênico da minissérie Dois Irmãos acaba tolhendo a força dramática da história
É inequívoco o elemento folhetinesco de Dois Irmãos: no centro do romance de Milton Hatoum publicado em 2000 está o ódio visceral que os gêmeos Omar e Yaqub, filhos de libaneses radicados em Manaus na primeira metade do século XX, nutrem um pelo outro. Era quase obrigatório que o livro ganhasse uma adaptação televisiva na casa maior do folhetim nacional, a Globo — e, claro, pelas mãos do mais “literário” diretor da emissora, Luiz Fernando Carvalho. Dois Irmãos, minissérie que chega ao décimo e último capítulo na sexta-feira 20, obteve respeitáveis 21 pontos de audiência na estreia. É um espetáculo suntuoso: um drama familiar encenado contra o fundo da paisagem amazônica, atravessando décadas de história brasileira em reconstituição de época preciosista, e com atuações, na média, excelentes. Mas os embates entre o devasso Omar e o reservado Yaqub (vividos, na idade adulta, por Cauã Reymond) tropeçam na carpintaria rococó do diretor.
Há um ritmo quase mecânico na alternância entre as cenas atmosféricas de cortinas esvoaçantes ou chuva tropical sobre a floresta e os momentos de gritaria e barraco na família dos gêmeos. O roteiro, embora às vezes confuso, tem bons achados. Uma cena que não existe como tal no livro sublinha a diferença com que os gêmeos são tratados pela mãe, Zana (nesta fase, Juliana Paes): na adolescência, os dois são mandados para uma temporada no Líbano — mas só Yaqub parte no navio; Omar acaba retido no cais pela mãe, que sempre o cobriu de mimos. Infelizmente, a lentidão teatral da ação, rigidamente coreografada, fez naufragar o drama dessa cena. Dois Irmãos faria mais justiça ao livro que lhe deu origem se houvesse esmero não só na composição da imagem, mas também na composição dos personagens.
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