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Rock in Rio vai de manjados astros a apostas bem sacadas

A seleção eclética da oitava edição do festival começa nesta sexta, 27

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h42 - Publicado em 20 set 2019, 06h30

Em 1985, quando o Rock in Rio teve sua histórica primeira edição, a massa de até 250 000 espectadores consumia com sofreguidão um artigo então raro no país: shows das grandes estrelas do rock e do pop do período. Hipnotizado pelo espetáculo do Queen e pelos hits açucarados de James Taylor, entre outras atrações, o público não estava nem aí para o caos daquele descampado de Jacarepaguá com lamaçal para Woodstock nenhum botar defeito. Às 14 horas desta sexta, 27, quando o festival der a largada à maratona de duas semanas da sua oitava edição brasileira (às quais se somam as costumeiras versões em Lisboa e passagens por Madri e Las Vegas), o público terá o ambiente mais confortável da Cidade do Rock, no Parque Olímpico da Barra da Tijuca. Com seus nove palcos espalhados por 385 000 metros quadrados, o evento segue tendência de outros megafestivais: a música virou pretexto para curtir, dançar e paquerar (ou curtir com um crush, na gíria dos millennials).

No que diz respeito à seleção musical, é sintomático que o DJ goiano Alok e Anitta, com seu funk pop, sejam atrações do palco principal. A organização do festival há tempos entendeu o anseio da nova geração: mais que os shows em si, as pessoas querem é se esbaldar na balada. O horário de funcionamento será estendido — agora o evento vai das 14 horas às 4 da manhã, para que os frequentadores possam se divertir em palcos como o New Dance Order, voltado para a música disco.

O Rock in Rio adiciona a isso sua marca vitoriosa: apostar sempre no certo. Seu cardápio lembra aqueles rodízios que oferecem de churrasco a sushi. Vai do heavy metal ao samba, do cancioneiro paraense ao rock alternativo, do funk carioca ao pop, do hip-­hop à eletrônica. A seleção pode parecer, à primeira vista, um convite à congestão musical. Mas faz sentido na estratégia mercadológica do evento. Os organizadores se baseiam em enquetes com o público a cada edição — e também monitoram as redes sociais. Ouvir a voz do povo faz com que muitos dos convidados sejam figuras carimbadas — caso dos americanos Red Hot Chili Peppers e Bon Jovi. Ivete Sangalo participou quinze vezes, entre Rio, Lisboa, Madri e Las Vegas. Além disso, houve pedidos específicos para que Nickelback, Foo Fighters e Imagine Dragons completassem a escalação. A edição de 2019, no entanto, tem apostas bem sacadas. O rapper Drake, um dos maiores do ramo na atualidade, fecha a primeira noite — e a cantora Pink encerra uma das datas da segunda semana. Há ainda um palco com propostas menos óbvias, pinçadas por um curador antenado.

Com previsão de impacto de 1,7 bilhão de reais na economia carioca, o Rock in Rio soube farejar as novas expectativas e rumos comportamentais do público para sobreviver e crescer. Mas uma coisa permaneceu imutável: o barulho dos metaleiros. O heavy metal foi a grande estrela da primeira edição do Rock in Rio e reuniu os maiores públicos da história do festival. O gênero reafirma sua força com a presença de três nomes que se apresentaram na maratona de 1985: Scorpions, Whitesnake e Iron Maiden. Os fãs do gênero fazem a alegria, mas dão trabalho. “Eles são os mais fiéis e revoltados nas redes. Quando anunciamos um artista pop, querem matar a gente”, diz Roberta Medina, vice-­presidente do festival e filha de seu fundador, o empresário Roberto Medina. Uma curiosidade, aliás, cerca as participações do Iron Maiden. Em 2013, o sexteto chateou Roberto Medina ao tecer comentários pouco elogiosos à marca de cerveja vendida no evento. Seu retorno em 2019 significa que o grupo foi perdoado. “Quando meu pai está bravo, não contrata de novo. Ele é do tipo que, se estiver perdendo no futebol e for o dono da bola, a leva embora”, diverte-se Roberta. Pela regra pragmática do Rock in Rio, mais do que ninguém ele sabe que o show não pode parar — principalmente se tiver público garantido.

Publicado em VEJA de 25 de setembro de 2019, edição nº 2653

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