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Redescoberto, Machado de Assis é exaltado por revista americana

Autor de 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' ganhou nova tradução nos EUA — e livro esgotou nas lojas online

Por Tamara Nassif Atualizado em 4 jun 2020, 21h13 - Publicado em 4 jun 2020, 19h25

Há quem diga que Machado de Assis é o maior e melhor escritor brasileiro – uma opinião que tomou a crítica de solo estrangeiro esta semana. A prestigiosa revista americana The New Yorker publicou um acalorado artigo ao criador do “defunto autor”, de Memórias Póstumas de Brás Cubas, obra que ganhou uma nova tradução nos Estados Unidos e tem o texto da publicação como prefácio.

De autoria de Dave Eggers, escritor de O Círculo, livro que inspirou o filme homônimo de 2017, o artigo descasca elogios já nas primeiras linhas: “Sagacidade transita entre séculos e hemisférios. Não empoeira e, quando feita do jeito certo, não envelhece. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Joaquim Maria Machado de Assis, é exemplo disso. Há muito esquecido, é um dos livros mais sagazes, lúdicos e, dessa forma, mais vivos e atemporais já escritos.” Também ganha destaque o estilo narrativo de Brás, que, na posição de privilégio que a morte o concedeu, ora desdenha da sociedade, ora desdenha do próprio leitor, e o brilhantismo machadiano de refletir sobre o Brasil de 1881, agora mais atual do que nunca.

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Eggers também salienta alguns capítulos da obra e os descreve de forma até apaixonada, bem como o romance adúltero de Brás Cubas com Vírgilia e a metalinguística do texto. Ele chega a destacar o trecho em que o defunto autor começa a se arrepender de escrever o livro, e o descreve como “breve, brilhante e ainda mais abrilhantado pela infinita metalinguagem e falta de confiança em si próprio”.

“É uma obra-prima cintilante e um deleite absoluto de se ler, mas, por nenhuma boa razão, quase não foi lido por falantes da língua inglesa neste século”, escreve. É nessa toada que o artigo intitulado “Redescobrindo um dos mais sagazes livros já escritosdá o ponta-pé inicial para a redescoberta de Machado na gringa e pode inclusive ter sido responsável por impulsionar as vendas da nova tradução de Memórias Póstumas, da americana e brasilianista Flora Thomson-Deveaux e assinada pela editora Penguin. O sucesso foi tanto que quem procura comprar a versão em brochura na Amazon recebe a negativa “temporariamente sem estoque” – o mesmo acontece na livraria Barnes & Noble, a maior varejista do ramo nos Estados Unidos.

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Na soma de artigos elogiosos e tradução tão rapidamente esgotada, também está a adoração por Machado por parte de grandes nomes, como Woody Allen, Phillip Roth e Susan Sontag – esta última o descreveu como melhor autor da América Latina e escreveu o prefácio da primeira tradução do livro para inglês, na década 1950. Também não poupam elogios Allen Ginsberg, poeta que o comparou a Kafka. Stefan Zweig, escritor que inspirou o filme O Grande Hotel Budapeste, e Harold Bloom, crítico literário que o considerava o maior escritor negro de todos os tempos e o comparava a Laurence Sterne.

Com tanta repercussão, o romance está como o mais vendido da categoria Literatura da América Latina e do Caribe, na loja online da Amazon, e integra uma série de novas traduções de obras machadianas nos Estados Unidos. Há de se esperar que em breve americanos entrarão no debate para falar se Capitu traiu ou não Bentinho, do livro Dom Casmurro.

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