Quem é Mayara Magri, a estudante humilde que virou estrela do balé mundial
Filha de um taxista e uma dona de casa, a carioca vem exibir seu talento num espetáculo no Rio
Antes de entrar no palco, Mayara Magri reza e prega um alfinete entre sua roupa íntima e o collant do balé, no qual carrega quatro medalhinhas de santos. O amuleto da sorte é levado com frequência até o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo, para abençoar e proteger a jovem de 28 anos que é estrela da Royal Ballet de Londres, uma das mais renomadas companhias de dança do mundo. A crença católica acompanha a vida inteira de Mayara, nascida e criada no Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro — e parece ter efeito prático. Filha de Marco Antônio, um taxista, e de Ana Cristina, uma dona de casa, a carioca se apaixonou pelo balé clássico quando tinha apenas 8 anos. Ao lado das duas irmãs, Mayanie e Melanie, foi matriculada em um curso particular com bolsa integral, graças a um projeto social da própria escola.
Balé: Uma introdução para crianças
Humildes, os pais de Mayara nem imaginavam que o hobby poderia se tornar uma carreira, ainda mais em um Brasil quase sem incentivos culturais destinados ao balé à época. Ainda assim, apoiaram a filha, levando-a aos ensaios e apresentações. “Meu propósito sempre foi chegar ao Royal Ballet. Me falaram que eu precisava ganhar determinadas competições para conseguir uma audição. Eu fui lá e ganhei. Agora, quando olho para trás, fico toda arrepiada. É fruto de um trabalho de vinte anos”, disse Mayara a VEJA.
Por mais clichê que pareça, a determinação vem realmente de berço em seu caso. A mãe fez questão de que as filhas tivessem a melhor educação em escolas particulares, com vagas conquistadas por meio de provas para obter bolsas de estudo. Hoje, a jovem é fluente em inglês e especialista no fouetté, um dos passos mais difíceis, em que a bailarina tem o desafio de girar 32 vezes ininterruptamente. Única brasileira a ocupar o posto de primeira-bailarina do Royal, ela hoje mora em Londres e dança ao redor do mundo representando a companhia.
Métodos do balé clássico: História e consolidação
Nesta semana, Mayara se apresenta em solo brasileiro, no Rio, com o espetáculo ST Tragédias, dirigido e coreografado por Ana Botafogo e Marcelo Misailidis, e que recria os clássicos Romeu e Julieta e Othello, de Shakespeare, com poemas sinfônicos de Tchaikovsky. “A excelência técnica da Mayara vai marcar o tempo. É importante que o Brasil conheça o talento dela”, elogia o diretor. Bailarina veterana, Ana consegue visualizar uma conexão entre sua trajetória consagrada e a da nova estrela. “Ela está sempre buscando um detalhe a mais em suas apresentações. Talvez o que nos ligue seja exatamente essa vontade de transmitir uma emoção maior para o público”, diz.
Mayara chegou aonde sempre quis e, mesmo sabendo da aposentadoria precoce que a arte da dança um dia vai lhe impor, está longe de pensar em parar. “Quero dançar por mais dez anos. Mas também pretendo virar professora um dia”, afirma. Enquanto isso, vale vê-la brilhar nos palcos com seus impressionantes saltos e piruetas.
Publicado em VEJA de 20 de julho de 2022, edição nº 2798
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