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Quatro motivos por que ‘Game of Thrones’ não merece ganhar o Emmy

Em sua 7ª temporada — e sem os livros de George R. R. Martin — série errou o ritmo, teve falhas de roteiro e mudou a essência que fez dela o hit da TV

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 set 2018, 15h23 - Publicado em 17 set 2018, 09h30

No longínquo ano de 2011, espectadores da HBO, que ainda não tinha lido os livros Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin, se viram em absoluto choque quando Ned Stark (Sean Bean), o protagonista da primeira temporada de Game of Thrones, foi impiedosamente decapitado em praça pública, diante das duas filhas. A injustiça cometida contra um dos personagens mais populares de toda a série superou outras cenas de cortar o coração exibidas até ali. Como quando a jovem e inocente Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) foi vendida para um troglodita e estuprada no primeiro episódio, ou quando uma criança (Bran Stark, vivido por Isaac Hempstead Wright) foi empurrada do alto de uma torre após presenciar o romance secreto entre os irmãos Cersei e Jaime Lannister (Lena Headey e Nikolaj Coster-Waldau).

Desde então, Game of Thrones mostrou que não era para os fracos. Épica, bem produzida, e com reviravoltas constantes, o seriado cravou seu lugar na história da TV, mas quase colocou tudo a perder com sua sétima temporada, exibida no ano passado. Redenção, amor e cenas de heroísmo traíram o cerne da trama em sua primeira leva de episódios sem os livros de Martin como guia — o autor não cumpriu o prazo de entregar o sexto livro da saga antes da produção da temporada, aliás, não o lançou até hoje. Sem falar da alteração do ritmo em uma quantidade menor de episódios. Foram tantas críticas, entre fãs e especialistas, que é de se surpreender que a temporada agora esteja entre as favoritas ao Emmy de melhor série dramática. A memória da Academia de Artes e Ciências Televisivas, responsável pelo prêmio, é assim tão curta?

Então aqui estão quatro motivos para lembrar por que a série não merece ganhar o Emmy este ano.

 

Aqui tá quente, aqui tá frio

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(//Reprodução)

O esperado primeiro episódio da temporada começou como o povo gosta, com o assassinato de toda a casa de Lorde Walder Frey por Arya Stark (Maisie Williams), parte da vingança pela morte de sua família no Casamento Vermelho. A cena, contudo, foi a única a provocar arrepios no capítulo, que seguiu morno com Daenerys chegando ao seu lar oficial, o castelo de Dragonstone; a reunião dos irmãos Stark; e a falta de opção dos Lannisters na guerra — sem falar de uma participação vergonhosa do cantor Ed Sheeran como um soldado do exército da nobre família de Cersei. Os demais episódios pouco diferem do primeiro, com muitos encontros e discussões de estratégia, deixando os momentos de ápice apenas para as cenas em que aparecem os dragões.


Acelera, Westeros

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(//Reprodução)

O ritmo lento de Game of Thrones é tema recorrente de divergência entre os fãs. Os espectadores da TV tiveram que se adaptar ao estilo do autor, que anda de forma morosa na literatura, com excesso de personagens e acontecimentos, muitos que acabam sem desenvolvimento adequado ou desfecho — se ele pretende amarrar estes pontos nos próximos livros, só o próprio sabe. O estilo de escrita de Martin em nada diminui seu talento como autor, apenas demanda um leitor mais paciente. A lição, contudo, não foi aprendida pelos produtores da TV. Assim que passou à frente da obra escrita, tendo como referência apenas conversas com o escritor, os produtores decidiram acelerar a trama, resolvendo pepinos de seis temporadas em uma só. E em apenas sete episódios, em vez dos tradicionais dez por ano. A rapidez causou estranhamento e virou motivo de chacota com o episódio do corvo superveloz, que chegou a ganhar os apelidos de corvo-foguete e corvo express, o que faz com que ele mereça um tópico especial a seguir.

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O corvo-foguete e o dragão congelado

dragon
(//Reprodução)

A rapidez para resolver problemas da sétima temporada culminou no capítulo mais zombado na internet: o sexto episódio, que quebrou todas as poucas leis de um roteiro fantasioso. Jon Snow (Kit Harington) e sua turma atravessam a muralha para capturar um caminhante do gelo (ou zumbi congelado, para os íntimos), com o intuito de convencer os Lannisters que a guerra não é entre eles, e sim contra os assustadores azulões. A missão encontra alguns problemas. O grupo acaba ilhado, cercado pelos caminhantes que não sabem nadar, e esperam pacientemente que a água ao redor deles congele. Pouco antes, Snow pede que um dos rapazes do grupo volte correndo à muralha e envie um corvo (forma de correio medieval) à Daenerys, pedindo ajuda. Tanto o rapaz, quanto o corvo, e em seguida a chegada da loira com seus dragões, é muito rápida, cerca de 24 horas. Nas contas dos fãs que tem desenhado na parede do quarto o mapa dos Setes Reinos (e além), o percurso percorrido apenas pelo corvo seria de cerca de 2.400 km, trajeto que a ave levaria no mínimo 40 horas para percorrer. Mas façamos de conta que o corvo é mágico, parte de um reino mágico que não existe e não se espera verossimilhança com a vida real. Sendo assim, vamos resumir os outros problemas do mesmo episódio. Jon Snow enrola para subir no dragão com Daenerys e a moça acaba perdendo um de seus filhos cuspidores de fogo; Snow cai em um lago congelante, mas não pega nem uma gripe; tio Benjen, de novo, surge do nada só para salvar o herói; e os caminhantes tiram do fundo do lago congelado o dragão “morto”, com correntes… mas de onde saíram as correntes? E até alguns minutos antes, os zumbis não sabiam nadar. Aprenderam?


Game of Thrones, é você?

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(//Reprodução)

Foram tantos momentos felizes que Game of Thrones parecia um cover medieval da série Friends. Ao longo de seis temporadas, os irmãos da família Stark se dividiram pelo mundo, agora estão juntos, em uma Winterfell restaurada. A mocinha Sansa (Sophie Turner) parou de sofrer e virou a rainha da coisa toda. Os velhos inimigos que tiravam o sono dos fãs morreram. Jaime oficializou que tem um bom coração e deixou sua megera. Jon Snow e Daenerys se entregam ao amor em uma cena de sexo romântica digna de novela das seis da Globo. E até o irônico Tyrion (Peter Dinklage) passou pela temporada apagado, em momentos que parecia uma versão alcoolizada do Mestre dos Magos. Ok que ao final os caminhantes brancos chegam com um dragão cuspindo raios na muralha, mas depois de tanta felicidade, quem se importa com um exército de mortos-vivos?

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