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Quando a periferia virou palco: os 35 anos de coragem do Racionais MC’s

Da Zona Sul de São Paulo ao altar do rap nacional, Racionais MC’s ergueu o grito da periferia e fez história.

Por ricardo.junior Atualizado em 5 nov 2025, 08h56 - Publicado em 4 nov 2025, 11h33

No fim dos anos 80, numa São Paulo que ainda engolia sonhos periféricos, quatro jovens negros dispararam rimas afiadas como navalha. Era o nascimento dos Racionais MCs, o quarteto que transformaria a cultura do rap brasileiro. A trajetória deles – narrada aqui por mim, Rico Russo – mistura batida, denúncia, sonho e resiliência.

A gênese — da rua ao microfone

Em 1988 os Racionais tiveram seu pontapé inicial. O nome, “Racionais”, insinuava raciocínio, lógica firme contra o caos urbano. Na periferia paulistana onde muitos só viam muro, eles viam história. Suas letras eram o espelho quebrado de uma cidade desigual, onde o preto e pobre estavam sempre à margem da sociedade – ou numa rima.

Mano Brown (Pedro Paulo Soares Pereira)

Nasceu em 22 de abril de 1970, na zona sul de São Paulo, no Capão Redondo. Brown foi o porta-voz bruto e sincero do grupo: sua voz carregava o peso da vivência e da urgência. Em álbuns como “Sobrevivendo no Inferno” (1997) tornou-se a metáfora de uma juventude cercada por asfalto, sirenes, bailes e tensão policial. Suas canções não pedem licença para existir — elas invadem.

Ice Blue (Paulo Eduardo Salvador)

Nasceu em 16 de março de 1969. O apelido “Ice Blue” veio da música “Nêgo Blue” de Jorge Ben Jor. Brown já brincava que era porque ele andava “sempre arrumadinho”. Ice Blue abraçou não só a rima, mas a cena: apresentou programa de rádio, investiu em festivais de hip-hop, ajudou a sustentar o movimento como plataforma de expressão.

Edi Rock (Edivaldo Pereira Alves)

Nasceu em 20 de setembro de 1970. Ele começou com bailes, DJing, garotos quebrando as cordas da exclusão com rimas e termos — e junto com Brown, Blue e KL Jay fundou o Racionais em 1988. A lógica de Edi era menos “raiva à flor da pele” e mais “despertar para a motivação”. Sua composição “Negro Drama” tornou-se hino de quem vê no rap a ponte entre a voz e o espelho.

KL Jay (Kleber Geraldo Lelis Simões)

Nasceu em 10 de agosto de 1969. Ele é o DJ, o arquiteto das batidas, o maestro das bases sonoras que moldaram o som único do grupo. Enquanto Brown, Blue e Edi disparavam verso, KL Jay construía o cenário – o tecido rítmico denso que permitia as rimas respirarem.

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A ascensão, o impacto, a periferia no centro

Com os lançamentos de “Raio-X Brasil” (1993) e principalmente “Sobrevivendo no Inferno” (1997), o quarteto saltou das quebradas para o radar nacional. Suas letras falavam de violência policial, racismo institucional, cárcere, periferia — temas ignorados pela mídia tradicional, mas vividos por muitos. O rap deles não era passatempo: era crônica urbana.

A independência foi parte da marca: o Racionais batalharam fora do sistema convencional da indústria fonográfica, o que adicionou autenticidade ao discurso. A partir dali o rap deixou de ser nicho e virou instrumento de visibilidade e autoafirmação para milhares de jovens negros periféricos.

O estilo “Motta-esque” da narrativa

Se Nelson Motta escrevesse essa trajetória, ele diria: “Olhe para esses quatro moleques da periferia, erguidos de tudo o que lhes negaram, sentindo o peso da cidade em cada batida, e percebendo que a liberdade pode nascer da rima”. Ele veria poesia no caos, humor na contradição, e ternura na voz firme.

Os Racionais MCs encarnam isso: brutalidade e esperança, periferia e palco, ferida e festa. Eles se recusaram a “dar certo” segundo o molde fácil, preferiram “dar certo” segundo sua verdade.

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Marcos da carreira e legado

  • Fundação em 1988.
  • “Holocausto Urbano” (1990), “Escolha o Seu Caminho” (1992).
  • “Raio X Brasil” (1993) consolidou presença na cena.
  • “Sobrevivendo no Inferno” (1997) se tornou fenômeno cultural.
  • “Nada como um dia após o outro dia” (2002) também referência.
  • Continuação da relevância até hoje: o rap, a periferia, o Brasil acompanham.

O valor simbólico

Hoje, os Racionais MCs não são só um conjunto de artistas, são um símbolo: da resistência, da identidade periférica, da voz que aprendeu a se erguer no meio do nada e virou algo. Como diria Motta, “eles cantaram o concreto da cidade, e a cidade escutou; agora a cidade é palco, e eles seguem lá, firmes, rimando a vida”.

Conclusão

Camadas de concreto, muros de silêncio, exclusão e invisibilidade — e quatro negros usando mic e base para dizer: “eu tô aqui”. A trajetória dos Racionais MCs é essa: voz que rompeu encosto, rima que virou arquivo social, ritmo que virou história. Se cada integrante é uma faceta, o quarteto é prisma: reflete realidades antes apagadas, mostra que o rap não é só som, é memória, é ar, é fôlego.

Para os que vieram depois, Brown, Blue, Edi Rock e KL Jay significam o chão firme sob os pés de quem quer se expressar, rir, dançar, brigar — ou simplesmente existir. E no palco desse grande país, ainda espumando contradição, eles continuam lá — porque a periferia continua fazendo história.

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