Pesquisadoras que lidam com o combate à pandemia viram bonecas Barbie
Coleções temáticas são uma ideia da Mattel para inspirar futuras gerações
Nascida em 1959, nos Estados Unidos, ela é amada por crianças do mundo inteiro e já foi atacada por feministas preocupadas com as suas curvas inalcançáveis. Teve mais de 200 profissões, foi astronauta no auge da corrida espacial, cirurgiã em um período de avanços da medicina e até presidente americana na década de 90. Com mais de 60 anos de idade, gerou sozinha, no ano passado 1,3 bilhão de dólares para a fabricante de brinquedos Mattel — um recorde para a empresa. Barbie, a boneca mais popular do mundo, foi tudo isso e, recentemente, tornou-se veículo para homenagear cientistas de vários países que trabalharam na linha de frente do combate à Covid-19 durante a pandemia. Entre elas, está a biomédica brasileira Jaqueline Goes de Jesus.
Pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Jaqueline ajudou a identificar o genoma da variante brasileira do novo coronavírus em 48 horas, quando a média mundial gira em torno de quinze dias. A cientista já havia sido homenageada no projeto Donas da Rua, dos estúdios Mauricio de Sousa, ao ser retratada como Milena, a primeira personagem negra da Turma da Mônica. Em seu perfil no Instagram, a pesquisadora baiana escreveu que estava encantada com a riqueza de detalhes da Barbie que a reproduz como cientista. “Tornar-me um modelo para novas gerações é provar que, por meio das oportunidades, o talento e a inteligência podem alcançar e gerar frutos positivos para uma nação”, afirmou.
Além de Jaqueline, outras cinco cientistas que colaboraram no permanente combate à pandemia em várias frentes, no avesso do negacionismo, também viraram bonecas. Uma delas, a infectologista britânica Sarah Gilbert, responsável pelo desenvolvimento da vacina AstraZeneca na Universidade de Oxford, tornou-se dame da realeza e foi aplaudida de pé em meio ao Torneio de Wimbledon em junho. Dos Estados Unidos, estão representadas a enfermeira Amy O’Sullivan, homossexual e mãe de três filhos, que tratou o primeiro paciente com Covid-19 em Nova York, e a doutora Audrey Sue Cruz, que atuou na linha de frente em Las Vegas e colaborou com outros médicos asiático-americanos para combater o preconceito decorrente do vírus.
Mais duas médicas completam a coleção que faz parte do projeto Obrigado Heróis, lançado pela Mattel para homenagear figuras de destaque, mas também pessoas comuns que mantiveram as comunidades funcionando. Residente de psiquiatria da Universidade de Toronto, a canadense Chika Stacy Oriuwa participou de iniciativas para aumentar o número de estudantes negros nas faculdades de medicina do país. Por sua vez, a pesquisadora australiana Kirby White desenvolveu uma bata médica que pode ser lavada e reutilizada, permitindo assim que os funcionários da linha de frente continuem atendendo os pacientes durante a pandemia.
A má notícia é que as bonecas que fazem parte da iniciativa não estão à venda, o que certamente atiçará em breve o apetite dos colecionadores e das casas de leilões. Ainda assim, aproveitar a plataforma da Barbie para inspirar as próximas gerações não deixa de ser bela contribuição. “Nossa esperança é estimular a imaginação das crianças que interpretam seus próprios enredos como heróis”, declarou em um comunicado Lisa McKnight, vice-presidente sênior e chefe global do setor de bonecas.
Nos Estados Unidos, a série Mulheres Inspiradoras, parte do mesmo projeto da Mattel, representa personagens que fizeram história no país, como a enfermeira Florence Nightingale, a tenista Billie Jean King e a ativista Helen Keller — elas são encontradas no site da empresa a 30 dólares cada uma, excetuando impostos e taxas de envio. Mais do que a possibilidade de gerar receitas com esse tipo de coleção, a Mattel deixa uma singela mensagem. O mundo, afinal, é de todas, e não apenas das princesas curvilíneas e sempre loiras retratadas nas bonecas dos velhos tempos.
Publicado em VEJA de 1 de setembro de 2021, edição nº 2753