Os altos e baixos de Kristen Stewart, de ‘Crepúsculo’ ao Oscar
Atriz chegou a ser cancelada por polêmica hollywoodiana e hoje colhe os frutos de um bem pensado recálculo de rota
Quando ficou mundialmente famosa ao interpretar Bella Swan na saga vampiresca Crepúsculo —sofrível jornada de cinco filmes, entre 2008 e 2012 —, Kristen Stewart foi consagrada, por assim dizer, como uma atriz inexpressiva. De fato, seu olhar blasé destoa da simpatia, natural ou forçada, de outras estrelas hollywoodianas. Curiosamente, a feição de poucos amigos e a capacidade de atuar como se não pertencesse ao ambiente se encaixaram com perfeição em Spencer, filme no qual Kristen interpreta princesa Diana em uma fase muito específica, que a levaria a romper com a família real. Assim, da vergonha alheia que foi Crepúsculo, a americana de 31 anos alcançou o cobiçado lugar de prestígio ao ser indicada ao Oscar 2022 como melhor atriz. De uma ponta a outra, Kristen enfrentou uma montanha-russa de altos e baixos na carreira.
Mesmo criticada por especialistas, aos 18 anos, Kristen era adorada por um séquito de adolescentes do casal sobrenatural Bella e Edward Cullen (Robert Pattinson). A relação com Pattinson passou da ficção para a vida real. Mas, perto do fim da saga, a atriz acabou “cancelada” pelos próprios fãs: ela foi fotografada traindo o ator com Rupert Sanders, diretor de Branca de Neve e o Caçador — aliás, outro exemplar vergonhoso da filmografia da atriz. Sanders, aliás, era casado. O caso não pegou bem e ambos foram demitidos dos futuros filmes da franquia. A repercussão foi tão exagerada que até mesmo o futuro ex-presidente americano Donald Trump publicou uma série de tuítes crucificando a atriz pela infidelidade a Robert Pattinson.
O cancelamento se mostrou uma benção. Kristen, que havia feito uma bem-sucedida passagem pelo cinema independente no começo da carreira, ganhando destaque em Na Natureza Selvagem (2007), voltou ao reduto e ainda apostou em produções europeias. Em 2014, ao lado de Juliette Binoche, ela estrelou Acima das Nuvens, filme que lhe garantiu um César, o Oscar francês, e fez dela a primeira americana a conquistar um troféu de melhor atriz coadjuvante na pomposa premiação.
De lá até chegar em Spencer, Kristen acertou e errou na escolha de diversos filmes — mas sem deixar de ousar. Chamou a atenção no drama Para Sempre Alice; passou novamente pelo cinema francês com Personal Shopper, que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes; trabalhou com Woody Allen em Café Society; e encarou uma superprodução hollywoodiana com As Panteras. Ao assumir a homossexualidade e estrelar o romance natalino gay Alguém Avisa?, em 2020, Kristen perdeu a fama de “sem sal” e assumiu a de garota descolada — se tornou também uma das mais ousadas embaixadoras da grife francesa Chanel, desfilando looks da chiquérrima marca de formas bem distintas.
Agora, com a indicação ao Oscar por Spencer, ela completa sua jornada sorrateira e chega ao que, para a ainda tradicional indústria cinematográfica, é o ápice. Em um ano em que se esperava que Lady Gaga fosse recompensada por sua árdua — e até mesmo cômica — preparação para o papel de Patrizia Reggiani em Casa Gucci, foi Kristen Stewart com sua discreta Lady Di que provou que, às vezes, uma única expressão facial pode te levar longe.