O vovô trans do metal
O roqueiro Dee Snider, que canta no Brasil no sábado 23, fez fama como líder do Twisted Sister nos anos 80 — e pelas opiniões barulhentas sobre política
DEE SNIDER é um roqueiro de cabeludas contradições. Não se espere uma conduta linear do cantor de 64 anos, que se apresenta no sábado 23 em São Paulo. No Twisted Sister, seu antigo grupo, ele usava toneladas de maquiagem, mas nunca teve atitude afetada (os jovens da época piravam com seu visual, digamos, “transmetaleiro”). Embora irreverente, combateu a sério uma tentativa de censura às letras de rock. Votou em Hillary Clinton para a Presidência dos Estados Unidos, apesar de ter liberado um de seus hits para a campanha de Donald Trump (a quem conheceu no reality show The Celebrity Apprentice). “Ninguém é totalmente de direita ou de esquerda. Por que eu teria de sê-lo?”, disse a VEJA.
O nova-iorquino entrou no Twisted Sister em 1976 e mudou o som da banda, que se inspirava no rock platinado de David Bowie e do grupo The New York Dolls. “Passamos para o rock pesado”, diz Snider. Só o visual continou o mesmo: maquiagem e farrapos de cores berrantes. Twisted Sister sempre foi banda da segunda divisão, mas teve sucessos como I Wanna Rock e We’re Not Gonna Take It. O grupo inseriu batom e rímel num nicho roqueiro tido como machista. “A comunidade gay me adorava”, orgulha-se Snider. Já os puritanos o detestavam. Em 1985, o cantor foi convocado pelo Senado americano para explicar o conteúdo sadomasoquista de suas canções. E peitou de forma decisiva o então senador democrata Al Gore — cuja mulher, Tipper, liderava uma campanha contra a suposta obscenidade das letras de rock. “Falei para Al Gore que a maldade estava na cabeça da mulher dele”, diz. Para Snider, a esquerda liberal tem cerceado mais a liberdade de expressão que a direita: “Não podemos brincar com mais nada”.
Após o fim do Twisted Sister, em 2016, ele atuou na Broadway, mas não deixou o rock pesado — como demonstra o álbum For the Love of Metal. Snider fez barulho na eleição de 2016. Liberou o uso de We’re Not Gonna Take It por Trump, mas voltou atrás. “Meu avô é um imigrante russo. Apoiar a política anti-imigração de Trump seria trair sua memória”, explica. Apesar do voto em Hillary, manteve-se ambivalente: “Apoio o aborto, mas também o porte de arma”. O vovô trans do metal veio para confundir.
Publicado em VEJA de 27 de março de 2019, edição nº 2627
Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br