O papel diferente de Marcos Palmeira: produtor premiado de queijos
Prestes a estrear em remake da novela Pantanal, o ator ganha prêmio com frescal produzido em sua fazenda na Região Serrana do Rio
Você agora se tornou produtor premiado de queijos. O que isso tem a ver com a sua carreira como ator? Comprei a fazenda Vale das Palmeiras, em Teresópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, no fim dos anos 1990. Logo de cara, eu queria produzir um queijinho caseiro. O meu parceiro na época, o Rildo de Oliveira Gomes, amigo de infância, era mestre-queijeiro. Só que, em 2000, o Rildo foi assassinado e eu perdi esse momento. Mas a morte dele me fez enxergar ainda mais a fazenda. Depois, reencontrei outro parceiro, o Alvino de Oliveira, que passou a produzir os nossos queijos. Por enquanto, temos uma produção de 400 litros de leite por dia, que eu compro de dois produtores locais. Queremos chegar a 1 000, mas de forma sustentada.
É possível dividir o tempo entre o trabalho como ator e produtor e essa outra atividade? Tem sido assim nesses mais de vinte anos. Meu avô, Sinval Palmeira, advogado e deputado cassado pela ditadura, era fazendeiro na Bahia. Quando comprei a fazenda no Rio de Janeiro, não estava pensando em virar produtor. Eu não tinha sequer a consciência da importância dos orgânicos, não tinha consciência ambiental alguma. Isso veio depois, quando resolvemos recomeçar do zero, porque percebi que os trabalhadores não comiam o que cultivavam porque os produtos tinham agrotóxicos. Acho que foi essa conscientização que faltava. Nunca consegui me tornar só um fazendeiro, nem só um ator. As duas coisas andam juntas, inclusive nos meus trabalhos na TV e no cinema.
Os orgânicos vieram para ficar ou são uma onda passageira? Sem dúvida, existe um crescimento muito grande do mercado orgânico. Mas não se medem os ganhos desse consumo para a qualidade de vida. Quando se paga 1 real por um pé de alface, o produtor dela ganhou 5 ou 6 centavos apenas. É barato para quem? Tem um desequilíbrio nisso. Temos pouca política pública para fomentar a produção orgânica. Os grandes produtores têm subsídios e a gente fica nessa luta. A soma dos pequenos todos é que vai dar o volume de que precisamos.
Na nova versão da novela Pantanal, você atua como um consultor ambiental informal. Como funciona isso? Não tenho formação acadêmica nem como ator, nem como ambientalista. Mas tenho muita experiência nas duas áreas. Então, trago essas questões para dentro da história, conversando com os autores e incorporando-as em situações vividas pelos personagens. Onde estou envolvido, me dedico sempre 100%, dividindo o que sei e o que vivi.
Publicado em VEJA de 2 de fevereiro de 2022, edição nº 2774