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Mulheres são as estrelas da premiação do Festival de Berlim

Diretoras levaram o Urso de Ouro, o Grande Prêmio do Júri e troféus de melhor documentário, estreante e curta

Por Mariane Morisawa, de Berlim
Atualizado em 26 fev 2018, 10h28 - Publicado em 24 fev 2018, 18h59

Dos dezenove concorrentes ao Urso de Ouro no 68º Festival de Berlim, apenas quatro eram dirigidos por mulheres. Na cerimônia de premiação, o diretor do evento, Dieter Kosslick, disse que não queria naquele momento discutir o #MeToo, um dos grandes assuntos nos dez dias de festival. Mas houve um ar de #TimesUp na premiação. Os dois troféus principais foram para cineastas do sexo feminino: o Urso de Ouro para a estreante romena Adina Pintilie, por Touch Me Not, que também recebeu o prêmio de melhor primeiro longa, e o Grande Prêmio do Júri para Twarz, da polonesa Malgorzata Szumowska.

Touch Me Not é um filme experimental sobre identidade e aceitação do corpo, com sexo e nudez. “Desafiamos o espectador a repensar seus conceitos de intimidade. Sei que o filme vai ser recebido de maneira subjetiva. É uma espécie de espelho que oferecemos ao espectador”, disse a cineasta. “Acho este filme muito necessário, quando o medo do outro está se espalhando. É um convite à empatia.”

Twarz é sobre um homem que precisa de um transplante de rosto e passa a ser visto de forma diferente pelos outros. “Acho que é um sinal de tempos que num dos principais festivais do mundo os prêmios foram entregues a diretoras”, disse a cineasta na coletiva de imprensa dos premiados. “Espero que isso ajude as mulheres no futuro. Eu sou a favor de movimentos como #MeToo e #SpeakUp, espero que o mundo seja muito diferente para minha filha de 5 anos.”

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Wes Anderson, que cria mundos meticulosamente, levou o prêmio de direção por Isle of Dogs, sua fábula sobre um mundo em que cães são exilados numa ilha de lixo por medo de que transmitam doenças. Dovlatov, de Alexei German Jr., que recria a União Soviética dos anos 1970, ganhou o Urso de Prata de contribuição artística por seu figurino e direção de arte.

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Os dois latino-americanos da competição se deram bem. Las Herederas, de Marcelo Martinessi, produzido por Paraguai, Uruguai, Brasil, Holanda, Alemanha e França, levou o prêmio de atriz para a estreante Ana Brun e o Alfred Bauer, para filmes que abrem novas perspectivas – curioso, já que o longa não apresenta grandes inovações, apesar de ser delicado e bem-feito. “Somos de uma sociedade muito conservadora, ganhar os prêmios aqui é importante porque não é um filme que se espera do Paraguai. Além da diversidade sexual, colocamos mulheres no centro”, afirmou Martinessi. Ana Brun disse que se baseou em sua avó para interpretar a personagem, uma mulher que passa por uma grande transformação. “Eu me lembro que as mulheres ficavam enclausuradas e não falavam”, contou na coletiva de imprensa. Já o mexicano Museo, de Alonso Ruizpalacios, ganhou o Urso de Prata de roteiro, outra surpresa.

Anthony Bajon, do francês La Prière, de Cédic Kahn, foi premiado como melhor ator por sua interpretação de um garoto viciado internado numa casa religiosa.

O Brasil, que se saiu bem nas premiações paralelas, foi menção honrosa no troféu Glashütte de documentário com Ex-Pajé, de Luiz Bolognesi. O vencedor foi o austríaco Wladheims Walzer, de outra diretora, Ruth Beckermann, sobre o político Kurt Waldheim e seu passado nazista, o que se relaciona com a atualidade no país e no mundo. O Urso de Ouro de curta-metragem também foi para uma cineasta, a argentina radicada em Israel Ines Moldavsky, com The Men Behind the Walls. Ela se coloca como personagem ao acessar o Tinder e ter contato com palestinos da Cisjordânia.

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