Mostra em Paris resgata irmão que foi anjo da guarda do mestre Monet
Exposição revela a contribuição essencial de Léon na carreira dos impressionistas franceses — com apoio financeiro e moral
Em 1874, Claude Monet reproduziu com suas célebres pinceladas impressionistas um rosto que esteve em sua vida desde o nascimento: o do irmão Léon, quatro anos mais velho. O retrato familiar, que apresenta Léon bem-vestido e com expressão atenta, será exibido ao público pela primeira vez em uma exposição inédita em Paris, no Musée du Luxembourg. Em cartaz a partir de 15 de março, a mostra lança luz sobre o papel discreto, mas essencial, de Léon para a história da arte. Muito mais do que um mero irmão do pintor famoso, ele foi um grande patrono, financiando sua carreira nos tempos de crise e apoiando outros impressionistas renomados.
Monet or the Triumph of Impressionism
Esquecido pelos registros históricos, Léon Monet (1836-1917) integra uma categoria de pessoas que foram verdadeiros anjos da guarda da arte, ao proteger grandes pintores mexendo seus pauzinhos nos bastidores. Van Gogh, por exemplo, também era sustentado pelo irmão, Theo, e foi reconhecido pelo mundo como grande pintor graças aos esforços de divulgação da cunhada, Johanna Bonger.
Químico de formação e industrial bem-sucedido, Léon partilhava com o parente a paixão pelas cores. Enquanto o pai do impressionismo se embrenhou pelos efeitos artísticos dos pigmentos, o irmão mais velho se especializou na composição dos mesmos, criando um elo curioso entre os dois. A relação próxima fez com que Léon se dispusesse a ajudar Monet na carreira. Sua principal forma de apoio era comprar os quadros do irmão, incluindo obras como Flores da Primavera (1864) e Adolphe Monet Lendo no Jardim (1886). Amante da arte, Léon virou colecionador, e também adquiriu obras de Camille Pissarro, Alfred Sisley e Renoir, incentivando os artistas a seguirem no ofício com o dinheiro que injetava na compra das peças. Determinado a fazer mais, fundou, em 1872, a Sociedade Industrial de Rouen, que fornecia suporte para Monet e seus colegas impressionistas, incentivando os endinheirados da época a investir nos artistas.
Cartas a Théo: Rebeldes e Malditos
Para além do patronato, Léon exerceu um papel de apoio moral para o grupo: foi ele quem encorajou Monet, Pissarro e Sisley a participar das exibições na cidade de Rouen que acabariam pavimentando a carreira dos impressionistas. Como uma homenagem à sua contribuição, a mostra reunirá cerca de 100 trabalhos do grupo, incluindo obras de Monet, Sisley, Pissarro e Renoir, além de fotos em família e documentos. É o resgate do herói esquecido por trás do mestre.
Publicado em VEJA de 1º de março de 2023, edição nº 2830
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