Modelos acusam fotógrafos Mario Testino e Bruce Weber de assédio
Após reportagem do jornal 'The New York Times', revistas de moda baniram os acusados de sua lista de colaboradores
Os escândalos sexuais que pipocaram em Hollywood desde as denúncias contra o produtor Harvey Weinstein começam a reverberar no mundo da moda. Em reportagem do jornal The New York Times deste sábado, modelos masculinos acusam Mario Testino e Bruce Weber, dois dos mais prestigiados fotógrafos do ramo, de assediá-los durante sessões de fotos, muitas vezes, envolvendo contato físico não consensual. Entre eles, alguns não atuam mais e outros ainda estão na ativa.
Nascido no Peru, Testino assina campanhas publicitárias para marcas como Michael Kors, Burberry e Dolce & Gabbana, editoriais de moda e ainda é bastante requisitado por grandes celebridades, como Madonna, para quem tirou as fotos da primeira filha publicadas pela Vanity Fair em 1996, e até pela família real, com o registro do noivado do príncipe William e Kate Middleton, em 2014.
A reportagem traz relatos de 13 homens, modelos ou assistentes, que trabalharam com o peruano. “Se você quer trabalhar com Mario, você precisa fazer um ensaio nu no Chateau Marmont”, disse Jason Fedele, que foi clicado por ele para uma campanha da Gucci nos anos 1990, referindo-se ao hotel de luxo em Los Angeles onde o fotógrafo ficava. “Todos os agentes sabiam que isso era algo que te destacaria e faria sua carreira avançar.”
O veterano Ryan Locke também tem péssimas recordações da experiência na mesma campanha. “Ele era um predador sexual”, classifica. Ele foi obrigado a tirar toda a roupa para uma “sessão de testes” em um quarto de hotel, enquanto o fotógrafo usava apenas um robe. Depois de contratado, a falta de profissionalismo continuou. Testino teria mandado toda equipe embora para ficar sozinho com o modelo. “Ele subiu na cama, montou sobre mim e disse: ‘eu sou a garota, você, o rapaz'”, conta. “Joguei uma toalha nele, coloquei minhas roupas e fui embora.”
A reportagem do jornal também apresenta 15 vítimas do americano Bruce Weber, que já havia sido denunciado por um modelo em dezembro. Ele é conhecido pelas colaborações com Abercrombie & Fitch e, principalmente, Calvin Klein, para quem ajudou a criar uma imagem sexualizada da marca. Os acusadores lembram de ensaios e sessões nas quais o fotógrafo ordenava que se exercitassem nus e muitas vezes tocava suas partes íntimas.
“Eu lembro dele colocando os dedos na minha boca e segurando minha genitália”, disse o model Robyn Sinclair. “Nós nunca tivemos sexo ou nada do tipo, mas muita coisa acontecia. Muitos toques. Muito molestamento.” Nos bastidores, enfrentar a mão boba do fotógrafo ganhou até uma expressão: “ser brucificado”.
Os advogados dos dois acusados negaram todas as acusações.
Como resposta às revelações, a Condé Nast, que publica a revista Vogue, divulgou que os dois estão banidos das publicações da casa. Anna Wintour, editora da revista, e Robert A. Sauerberg Jr., CEO da empresa, disseram em comunicado: “Estamos muito perturbados com essas acusações e levando isso realmente a sério. À luz dessas alegações, nós não vamos relacionar nenhum novo trabalho com Bruce Weber e Mario Testino num futuro próximo”.