MARIA ALICE VERGUEIRO, atriz
Em palcos quase clandestinos da USP, nos anos 1970, em plena ditadura, a então professora de arte Maria Alice Vergueiro deu vida às contravenções de Maria I de Portugal em Cabaret da Rainha Louca. As cenas de sodomia encenadas com Cacá Rosset chocaram a comunidade acadêmica. Ela acabou afastada da docência e passou a dedicar-se inteiramente ao teatro, sua paixão. Livre de amarras morais, a atriz empreendeu uma carreira tão brilhante quanto provocadora, que lhe rendeu a alcunha de “dama do underground”, ou do “udigrúdi”, como se dizia. Em 1977, fundou, ao lado de Luiz Roberto Galízia e de Rosset, o Teatro do Ornitorrinco, popular pelo tom escrachado. Viralizou na internet em 2006, no vídeo Tapa na Pantera, no qual interpretou uma senhora que usava maconha e dizia frases como: “O que faz mal é o papelzinho”. Morreu em 3 de junho, aos 85 anos, de complicações de Parkinson, em São Paulo.
FLÁVIO MIGLIACCIO, ator
O tipo comum, engraçado e melancólico, de português muitas vezes claudicante. Ninguém melhor do que o paulistano Flávio Migliaccio para levá-lo à televisão, ao cinema e ao teatro. Dito de outro modo: nos anos 1970, sem as redes sociais, sem a pressa contemporânea, ele conquistou as famílias brasileiras — entrava nos lares e de lá nunca saía. Tornou-se popular como um mecânico sonhador no programa Shazan, Xerife & Cia. (1972-1974) e repetiu o sucesso nos filmes do aloprado Tio Maneco (1971 e 1978). De lá para cá, notabilizou-se como um ator que se mostrava gigante em papéis menores: bastava olhar para o Seu Chalita, de Tapas & Beijos, para cair no riso. Em Boleiros, filme de Ugo Giorgetti, de 1998, ele foi um comovente Naldinho, ex-jogador do Corinthians. Desiludido com os rumos do país, sensação que deixou anotada em uma carta, foi achado morto em sua casa, em 4 de maio, aos 85 anos, em Rio Bonito, no Rio de Janeiro.
NICETTE BRUNO, atriz
Ela foi uma daquelas grandes atrizes cujo nome se mistura com a história do teatro e da televisão. Nascida Nicete Xavier, adotou o nome artístico de Nicette Bruno, em homenagem à mãe, a atriz Eleonor Bruno. Estreou no teatro nos anos 1940 e, como muitos profissionais egressos dos palcos, ajudou a construir a televisão em seus primórdios. Fez novelas nas extintas Excelsior e Tupi, até se transferir em 1981 para a Globo. Foi casada por sessenta anos com o ator Paulo Goulart (1933-2014), com quem teve três filhos. Morreu em 20 de dezembro, aos 87 anos, de complicações da Covid-19.
Publicado em VEJA de 30 de dezembro de 2020, edição nº 2719