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Guilherme Arantes, sobre mudança para a Espanha: “Quis me conhecer melhor”

Cantor de 68 anos conta como a estadia em Ávila influenciou novo disco e o ajudou a refletir sobre as razões do preconceito contra sua música

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h15 - Publicado em 6 ago 2021, 06h00

Por que o senhor decidiu gravar seu novo disco, A Desordem dos Templários, em Ávila, na Espanha? Eu me mudei para lá porque queria estudar música barroca e a cidade era perfeita. Mas o disco surgiu também de uma situação que vivi na Espanha. Já tenho 68 anos e, depois de ficar na mesma posição por muito tempo em uma live, dei mau jeito na coluna e fiquei meses de cama. Nesse período, sem ter o que fazer por aqui, comecei a ler muitos livros sobre política e a música brasileira.

A saga dos templários nas Cruzadas rende teorias conspiratórias, como no livro O Código Da Vinci. Por que o tema? Nunca me interessei por essas coisas medievais, de armaduras, espadas, elmos. Mas há algo anacrônico na imagem dos templários, de subir num cavalo e matar mouros, que vejo também no contexto mundial, com a ascensão de Trump e no Brasil de hoje. Há uma tendência de confrontação.

A estadia na Espanha foi de autodescoberta? Sim. Quis entender como eu fui visto ao longo de cinquenta anos de carreira e o porquê de certas implicâncias. Precisava me conhecer melhor. Não por vaidade, mas para tentar entender quem é o Guilherme Arantes.

Como assim? O meio cultural é feito de indulgências e implicâncias. Como se dá a formação da opinião no Brasil? Isso atingiu até mesmo o Tom Jobim. Por exemplo: por que o Taiguara não foi tão reconhecido quanto o Gonzaguinha? Será que foi porque ele pegou pesado demais politicamente e se tornou uma pessoa inconveniente? Essas nuances que mexem com a política e a opinião do país me interessaram muito.

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O senhor se considera um cantor popular? Sim. O Mano Brown (do grupo de rap Racionais MC’s) me disse uma vez que as irmãs e as tias dele gostavam muito de mim. Fui artista de auditório e minha música é cantada por motoristas de ônibus e donas de salão de beleza, com minha foto lá na parede, ao lado da do Fábio Jr. Sou um cara que transcende. A música Amanhã foi cantada por todas as vertentes ideológicas. Ela serviu para o Collor e para o Lula. Parece um quiabo, é escorregadia. Agora, minha música chega para novas gerações.

Vê preconceito contra sua música? Não acho que exista preconceito contra mim. Mas Planeta Água foi chamada de hino da Sabesp. Por que essa mordacidade? A MPB teve uma tradição de fazer metáforas para fugir do AI-5. Mas minha geração já não teve essa obrigação de ficar esteticamente presa a isso. O AI-5 foi uma espécie de glaciação na história do Brasil e marcou uma ruptura que quebrou as pernas da MPB.

Publicado em VEJA de 11 de agosto de 2021, edição nº 2750

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