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Filme sobre Rodin não merecia estar no Festival de Cannes

Longa de Jacques Doillon sobre o escultor francês, cujo centenário de morte comemora-se este ano, usa recursos antiquados

Por Mariane Morisawa, de Cannes
23 Maio 2017, 19h18

“É um filme velho!”, gritou um jornalista, em espanhol, quando a luz ainda estava apagada na sessão de imprensa de Rodin, de Jacques Doillon, na noite de hoje, dentro da competição do 70º Festival de Cannes. E, de fato, tem mesmo cheiro de mofo a cinebiografia do grande escultor Auguste Rodin (1840-1917), que merecia algo à altura de sua genialidade artística. Vai ficar para a próxima.

Vincent Lindon, que ganhou o prêmio de melhor ator em Cannes dois anos atrás com O Valor de um Homem, de Stéphane Brizé, interpreta o escultor aos 40 anos, quando ele recebe sua primeira encomenda do Estado, Porta do Inferno. O filme acompanha o início de seu relacionamento com Camille Claudel (Izïa Higelin), então aprendiz em seu estúdio, a derrocada do romance, com a escultora o acusando de plagiar suas obras, e sua decepção com a má recepção a Balzac, hoje considerada fundadora da escultura contemporânea.

Em Rodin, a obsessão e paranoia de Camille começa antes do rompimento, colocando por terra a tese de que teria sido esse o motivo de seu estado mental mais adiante, que a levou a ser internada. Ambiciosa e cheia de opiniões, ela fica decepcionada com a recusa de Rodin de se separar de Rose (Séverine Caneele), sua companheira de muitos anos, e de abandonar suas muitas amantes. Rose aparece como uma mulher que aguenta tudo de Rodin, mas não deixa de enfrentar aquelas que vê como rivais. No fim, as duas parecem histéricas, e as modelos todas querem ir para a cama com o artista, que aparece como paciente, compreensivo e, claro, sedutor. Lindon faz o que pode com o material que tem em mãos.

Doillon mostra com algum detalhe o processo criativo do escultor, que combinava peças aparentemente prontas para criar coisas novas, inspirava-se na natureza e via as peças em argila como infinitamente mutáveis. Essa é a parte minimamente interessante do filme, que usa, porém, recursos ultrapassados mesmo em produções de época, com leitura de cartas, gente falando consigo mesma para expor o pensamento da personagem, e Rodin conversando com cada uma de suas estátuas. Não havia por que estar em competição.

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