Entre altos e baixos, Oscar 2021 se encaixa no ‘novo normal’ da pandemia
Premiação encontrou um formato elegante, mas exibiu as feridas de um período no qual o cinema foi dramaticamente prejudicado
Toda cerimônia do Oscar inicia-se com um tradicional monólogo de abertura. Geralmente, o apresentador, que muitas vezes é um comediante, alfineta a plateia apinhada de celebridades, fala com ironia dos indicados e, se possível, faz uma piada de tom político. Este ano, porém, a premiação mudou radicalmente seu formato. A atriz e cineasta Regina King foi a responsável por abrir a festa, mas com sobriedade nos olhos e um discurso que celebrava a vida e a importância da arte. A transformação que pautou o clima do restante da premiação foi uma das muitas mudanças feitas pela Academia de Hollywood para apresentar uma versão minimamente elegante do Oscar em plena pandemia — e que não parecesse uma reunião do Zoom.
O anfiteatro do Dolby Theatre, em Los Angeles, casa oficial da cerimônia, foi trocado pela charmosa arquitetura do prédio Union Station, na mesma cidade americana, onde mesas foram posicionadas com distanciamento social para os indicados. Em Paris e Londres, duas outras sedes foram montadas para os que não puderam viajar. Máscaras, liberadas pela organização da festa, eram vistas nos rostos de alguns poucos participantes – quando as câmeras não estavam filmando, todos deveriam devolver o acessório ao rosto.
Apesar da boa produção e do respiro que foi vislumbrar um futuro em que as máscaras se tornem raridade, o Oscar foi duramente afetado pela pandemia no cerne de sua missão: os filmes. Com os cinemas fechados durante o ano passado, levantaram-se dúvidas se o Oscar se sustentaria. Produções foram adiadas. Muitas foram para o streaming. Tanto que a grande maioria dos indicados era composta por longas independentes que conseguiram se sobressair ocupando as salas que lutavam para exibir uma novidade enquanto grandes estúdios cancelavam suas estreias.
O esquema de lançamento global de filmes, aliás, foi brutalmente modificado. Tanto que o Brasil, por exemplo, perdeu a chance de uma saudável maratona com os indicados ao Oscar, já que muitos títulos estrearam recentemente nos poucos cinemas abertos. O clima geral de melancolia do país também não anda propício para curtir um “filminho” – especialmente as produções dramáticas típicas da premiação.
A mornidão conduziu também a divisão de estatuetas. Nomadland foi o grande vencedor da noite, com as estatuetas de melhor filme, direção e atriz, para Frances McDormand, confirmando o favoritismo do título que acompanha a vida de nômades pelo interior dos Estados Unidos. Meu Pai, A Voz Suprema do Blues, Judas e o Messias Negro, O Som do Silêncio, Soul e Mank levaram cada duas estatuetas. Bela Vingança, Druk – Mais uma Rodada, Minari e Tenet saíram com um troféu cada um.