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David Hockney: o artista pop que mudou a pintura – e disse não à rainha

Um dos inventores da pop art ganha sua maior retrospectiva aos 87 anos, em Paris

Por Thiago Gelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 abr 2025, 08h00

Ao sobrevoar Los Angeles pela primeira vez, em 1964, o inglês David Hockney se apaixonou pelas formas em azul-turquesa que denunciavam as numerosas piscinas daquele Éden artificial. Então aos 27 anos, ele já havia idealizado o cenário e as companhias que encontraria por lá antes mesmo de chegar ao local — onde viveria de forma intermitente até 2005. E não se decepcionou. Sem delongas, logo se misturou à elite artística americana da época, fez amizades notórias como as de Andy Warhol e Billy Wilder e viveu livremente como homem gay. Apaixonou-se e teve o coração partido após conhecer outro artista, Peter Schlesinger, de 18 anos. Com a ferida amorosa ainda aberta, pintou a mais famosa das obras dedicadas aos corpos d’água, que fez entre 1971 e 1972: Retrato de um Artista (Piscina com Duas Figuras), na qual o amante é visto encarando um homem submerso.

Colorida pela tinta acrílica vibrante típica, a obra equilibra seus dotes da pintura figurativa com o quê materialista da pop art e se tornou uma das imagens mais influentes do século XX. Em 2018, foi leiloada por 90,3 milhões de dólares e bateu o recorde do valor pago pelo trabalho de um artista vivo. Em 2025, a emblemática tela poderá ser vista pelo público que visitar a mostra David Hockney 25 — a mais abrangente dos setenta anos de carreira do mestre —, que ocupa a Fundação Louis Vuitton, em Paris, até o dia 31 de agosto.

RECORDE - 'Retrato de um Artista (Piscina com Duas Figuras)': obra atingiu 90,3 milhões de dólares em leilão
RECORDE - ’Retrato de um Artista (Piscina com Duas Figuras)’: obra atingiu 90,3 milhões de dólares em leilão (Jenni Carter/ART Gallery of New South Wales/.)

Composta de mais de 400 obras feitas entre 1955 e 2025, a exposição agrega telas, fotografias, ilustrações e projetos de cenografia realizados pelo artista de 87 anos, um perfeito dândi britânico que jamais se prendeu a uma temática ou formato. No último andar, uma série de reproduções ilumina as referências do pintor — profundo estudioso da história da arte, ele bebe de Van Gogh, Paul Cézanne, Claude Lorrain, Fra Angelico e, principalmente, Pablo Picasso.

Hockney não emula o cubismo do espanhol, mas compartilha a crença de que reproduzir feições não é tarefa simples ou direta. Para realmente saber a aparência do modelo, ele exige conhecê-lo intimamente e, por isso, apenas retrata amigos. O critério fez com que seu repertório contasse com diversos rostos notórios da boemia setentista, à maneira das polaroids de Warhol. Posaram para ele a drag queen Divine, o escritor Christopher Isherwood, o retratista Don Bachardy e a designer Celia Birtwell, entre outros. Em 2023, pintou o pop star Harry Styles, mas não sabe dizer se o conhecia o suficiente. “Todos são diferentes e, como as folhas de uma árvore, caem de pouco em pouco”, explica. Por esse motivo, em certa ocasião se recusou a retratar a rainha Elizabeth II. Dias atrás, recebeu visita do filho dela, ninguém menos do que o rei Charles III — e também desconversou sobre retratá-lo.

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FIGURATIVO - Hockey hoje: um pintor que disse não ao rei e à rainha
FIGURATIVO - Hockey hoje: um pintor que disse não ao rei e à rainha (Thomas Coex/AFP)

Um dos poucos sobreviventes de seu tempo, Hockney sente o peso do passado, mas não é saudosista. Já disse saber que viveu durante “a era mais livre da história”, ainda que reconheça que aquele tempo se foi: “Por isso me tranquei em uma casa na Normandia, onde posso fumar e fazer o que quiser”. Lá, vive com o parceiro, Jean-Pierre Gonçalves de Lima, e tem se dedicado principalmente a paisagens ilustradas em iPad desde 2010, destacadas em telas na Fundação Louis Vuitton. Agora, contudo, Hockney já deixou de lado o frisson digital e retomou a produção feita à mão com tinta acrílica. Dentro dele, permanece a liberdade dos anos 1970: “Podem debater sobre o passado quanto quiserem, eu só sigo para a próxima coisa”, afirma. Com tantas histórias, o artista traduz sua sabedoria num dos quadros mais recentes, Depois de Blake: Menos Se Sabe do que Se Pensa (2024), cujo canto inferior proclama: “É o agora que é eterno”. O dândi mergulhou fundo na vida – e na arte.

Publicado em VEJA de 11 de abril de 2025, edição nº 2939

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