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‘Dark Side of the Moon’: os 50 anos do clássico que mudou o rock

Com o álbum, que ganha reedição luxuosa, o grupo inglês Pink Floyd provocou uma revolução sonora

Por José Emilio Rondeau
Atualizado em 4 jun 2024, 10h30 - Publicado em 26 fev 2023, 08h00

Existem discos que representam uma evolução — ou uma transformação — na carreira do artista. Existem discos que turbinam a popularidade de quem o gravou. Existem discos que definem uma era. E existe The Dark Side of the Moon. Lançado em 1º de março de 1973, o oitavo álbum do Pink Floyd completa cinquenta anos nesta semana — e representou não só um renascimento para o grupo inglês, mas a reinvenção do rock como se conhecia até então. Roger Waters (voz e baixo), David Gilmour (voz e guitarras), Rick Wright (voz e teclados) e Nick Mason (bateria) abandonaram ali sua encarnação mais experimental para lapidar álbuns temáticos, concisos e bem mais acessíveis; ampliaram de modo exponencial seu público; ajudaram a desenhar a era de ouro das rádios FM e a redefinir os contornos dos shows de rock; e influenciaram gerações futuras de artistas.

Pink Floyd: The Dark Side of the Moon: The Official 50th Anniversary Book

Considerado a obra máxima do Pink Floyd — e empacotado numa embalagem de visual antológico, com seu famoso prisma —, The Dark Side of the Moon não fez sucesso, apenas: tornou-se fenômeno histórico. Adqui­ri­do por mais de 50 milhões de pessoas, é um dos 25 álbuns mais vendidos de todos os tempos. Seus matizes e detalhes — gravados com a tecnologia de ponta na época, em dezesseis canais, pelo mesmo Alan Parsons responsável por Abbey Road, disco de melhor som dos Beatles — pareciam sob encomenda para demonstrar os predicados das transmissões em estéreo das rádios FM. Ao vivo, o repertório do disco era apresentado em mixagem quadrafônica — precursora do som surround —, elevando o nível dos shows de rock e reforçando a posição do Pink Floyd como pioneiro de novas possibilidades cênicas, algo ajudado pelo uso de fitas pré-gravadas e de efeitos visuais no palco.

The Dark Side Of The Moon [Disco de Vinil]

Composto de letras escritas na totalidade por Waters, com base em suas preocupações diante das pressões da vida moderna — dinheiro, guerras, o medo da morte —, o disco inaugurou uma nova era para o Pink Floyd, distanciando-o da personalidade original, ligada a temas espaciais e esotéricos, definida por Syd Barrett, cantor, compositor, guitarrista, cofundador e frontman da banda. Por outro lado, é gigante a sombra de Syd — substituído por Gilmour, após uma desintegração mental potencializada pelo uso de LSD — sobre o disco.

CLÁSSICO - O disco: prisma antológico e inconfundível -
CLÁSSICO - O disco: prisma antológico e inconfundível – (//Divulgação)
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A partir do título pensado inicialmente para aquele conjunto de canções — “O Lado Escuro da Lua: uma Obra para Lunáticos Variados” —, a insanidade e o pior do ser humano, como a violência, costuram o álbum, da batida de coração da abertura à última música. Para pontuar o tema, Waters fez perguntas a diferentes pessoas — “quando foi a última vez que você foi violento?”, “tinha razão?”, “alguma vez achou que estivesse ficando maluco?” — e usou a gravação das respostas no disco.

Paul McCartney foi um dos “entrevistados”, mas ficou de fora, pois quis ser engraçadinho nas respostas. No entanto, Henry McCullough, guitarrista de sua banda, Wings, entrou no disco, ao tentar lembrar quem estava com a razão numa briga com a esposa. “Não sei, estava muito bêbado”, respondeu. Curiosamente, os Beatles participam involuntariamente de The Dark Side. Na hora em que se gravava a fala do porteiro do estúdio, Gerry O’Driscoll, que encerra o disco de modo tão forte e desconcertante — “Não existe um lado escuro da Lua. Na verdade, ela é toda escura” —, lá no fundo, baixinho, alguém reproduzia uma passagem orquestral de Ticket to Ride.

Pink Floyd and the Dark Side of the Moon: 50 Years

A perenidade e a influência do álbum mantêm-se. Ele computou até agora 970 semanas na parada dos Top 200 da Billboard. E sem The Dark Side of the Moon talvez não tivéssemos hoje a música de artistas como Radiohead ou The Flaming Lips — que regravou a obra-prima floydiana, do seu jeito, em 2009. Exemplo do enraizamento do disco na cultura pop planetária: alguém concluiu, em 1995, que fazia sentido assis­tir ao filme O Mágico de Oz ouvindo-­­o. Os pontos-chave do filme e do álbum, como por mágica, coincidem.

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Pink Floyd All the Songs: The Story Behind Every Track

O cinquentenário da obra tão emblemática será comemorado com requinte, com uma reedição super deluxe que sai em 24 de março — sob a forma de um caixote contendo o disco original, mais versões com mixagens em Dolby Atmos e em 5.1 Surround, e uma riqueza de brindes. Além disso, haverá ações paralelas como um concurso de animações baseadas nas faixas do disco e audições em planetários do mundo inteiro, acompanhadas de imagens criadas para a ocasião.

Apesar das celebrações, a reedição reforçou a acrimônia entre Waters e os membros sobreviventes do grupo, Mason e Gilmour — donos da marca Pink Floyd. De pirraça, Roger regravou há pouco o disco sem os antigos colegas, para sublinhar sua posse sobre as músicas. “É meu projeto e eu o compus!”, ralhou. De fato, Roger é o compositor e tem direito de fazer o que bem entende com a obra. Mas o The Dark Side of the Moon que perdura e fascina gerações será sempre o original.

Publicado em VEJA de 1º de março de 2023, edição nº 2830

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The Dark Side Of The Moon [Disco de Vinil]

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