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Cesar Camargo Mariano: ‘Elis Regina só teve uma. Melhor assim’

Casado durante sete anos com a cantora, pianista critica mercado da música atual no Brasil: 'sertanejo é tudo, menos arte'

Por Lucas Almeida Atualizado em 6 jul 2017, 14h46 - Publicado em 5 jul 2017, 09h27

Parte do seleto hall de grandes músicos do jazz e da bossa nova no Brasil, Cesar Camargo Mariano já produziu músicas para Tom Jobim, Nana Caymmi Yo-Yo Ma. No entanto, não há como conversar com ele sem mencionar a grande Elis Regina, com quem foi casado entre 1973 e 1981 e teve dois filhos: Pedro Mariano e Maria Rita.

Para além dos herdeiros, o casal foi responsável pelo nascimento de canções inesquecíveis, como Águas de Março. Apesar do fim conturbado da relação, Cesar não se esquiva de reconhecer o talento da ex: “Elis Regina só teve uma. Melhor Assim” e compara, “não é legal ter oito Picassos, é legal ter um só”.

O pianista hoje mora nos Estados Unidos, mas acompanha a produção de música nacional. Crítico, ele garante que só Ivete Sangalo se salva na atual leva da indústria cultural brasileira. Os dois produziram juntos o indefectível hit Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim.

O atual projeto do pianista envolve uma fusão entre elementos da MPB, do jazz e da música clássica, que resultou no DVD Joined, ao lado de um trio de músicos da Orquestra Filarmônica de Berlim. O grupo se apresenta nesta quarta-feira, na Sala São Paulo, como parte da série de Concertos Internacionais da TUCCA (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer).

https://www.youtube.com/watch?v=Pe0CCwzvBCI

Confira a entrevista completa com o músico:

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O que podemos esperar da sua apresentação de hoje? Conheci os músicos da Orquestra Filarmônica de Berlim em um festival na Bahia e já pensava em fazer uma fusão entre o samba moderno, com jazz e elementos clássicos. Escrevi as composições e fizemos o DVD Joined. Agora, em prol de uma causa muito justa, aceitamos esse convite.

O senhor mora nos Estados Unidos desde 1994. Qual a diferença entre trabalhar no Brasil e fora dele? Cada país possui situações muito diferentes, tanto comerciais, quanto artísticas, porque muda como você consegue contatos e como deve vender e divulgar a música, mas o mundo inteiro gosta das canções brasileiras. Em relação ao público, continuo preferindo tocar no Brasil, por ser a minha terra mesmo. Cada vez que vou aí tocar, extrapola a minha alegria.

Acompanha as novidades na música brasileira? Sempre, e acho que a indústria achatou todo o mercado. É difícil conhecer as pessoas novas que são boas, porque elas não ganham espaço. Quando você começa a produzir um álbum, o diretor da companhia dita regras para ser mais comercial. Isso já acontecia com grandes nomes como Simone e Elis, mas a qualidade da música acabou. No Brasil, as pessoas só pensam na mídia, custe o que custar. A arte virou um papel amassado jogado no lixo.

O sertanejo é tudo, menos arte. As pessoas não são mais artistas, são personalidades.

Cesar Camargo Mariano

O mercado sertanejo, em especial, vem ganhando espaço. Acredita que existe uma saturação do estilo em prol do comércio? O sertanejo de hoje é descartável, igual ao funk brasileiro atual. Se você quer saber mesmo, tomara que não perdure, porque não tem a qualidade que eu proponho: só serve para pular e dançar. Você me desculpa, mas eu estou velho. Não posso deixar mais de falar o que penso. O sertanejo é tudo, menos arte. As pessoas não são mais artistas, são personalidades.

Algum artista brasileiro atual já despertou a sua atenção? Me chamaram para fazer arranjos para Ivete Sangalo, quando ela estava começando carreira-solo. As duas músicas que eu fiz com ela estouraram: Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim e Sá Marina. A Ivete foi para outro gênero, mas, mesmo lá, ela faz com qualidade. Tem uma outra, que está na mesma onda dela, só que é loira, que é uma porcaria. Ela não traz nada novo. A música da Ivete é benfeita. Se você me perguntar se eu gosto, vou dizer que não, porque não entendo e não faz parte do meu mundo.

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O senhor já colaborou com grandes nomes como Maria Bethânia, Tom Jobim e, é claro, Elis. Já imaginava o que isso representaria para o cenário da música brasileira? Nós não tínhamos a mínima ideia. A gente era muito jovem e só queria fazer música. Não nos preocupávamos com cachê ou com direitos artísticos. Imaginar o que o disco Elis & Tom ia virar era impossível.

Assistiu ao filme Elis, lançado no ano passado? Não, eu já sei a história toda (risos). Vejo o meu passado como algo que foi muito bacana e valeu a pena. Agora, continuo trabalhando para fazer outras coisas. Uma vez, conheci Tony Benett e ele disse que tinha Elis & Tom na cabeceira da cama. Isso é um orgulho. Foi um trabalho legal, mas não gosto de ouvir minhas coisas, nem penso em regravar nada. Não gosto nem de repetir música em show quando pedem bis.

Não dava para não perceber o talento da Elis, porque era perfeito. Elis Regina só teve uma.

Cesar Camargo Mariano

É quase um consenso que Elis foi a maior cantora do Brasil. O senhor reconhecia isso na época? Antes de conhecer a Elis, já tinha visto o seu potencial, por conta do carisma e do modo de interpretar. Não dava para não perceber o talento da Elis, porque era perfeito. Elis Regina só teve uma. Melhor assim. Não é legal ter oito Picassos, mas sim ter um só.

A música tinha um papel relevante na TV quando o senhor despontou. Voltaria a fazer algum programa se fosse chamado? Hoje, não existe mais espaço para a música na televisão. A TV Manchete me chamou para apresentar o Um Toque de Classe e eu misturava tudo. Chamava Lobão para tocar jazz comigo e fazia duetos com Djavan. Mas se aparecesse um pedido desses agora, eu não toparia. Com quem que eu vou tocar? (risos).

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