Carta ao Leitor: Rascunho da história
Desde o instante em que entrou no radar das premiações internacionais, 'Ainda Estou Aqui' e Fernanda Torres mereceram ampla cobertura de VEJA

VEJA se orgulha, em 56 anos de trajetória, desde a sua edição inaugural, em setembro de 1968, de ajudar a contar a história do Brasil. O Globo de Ouro concedido a Fernanda Torres no domingo 5, motivo de celebração internacional do trabalho de uma atriz excepcional e de um filme, Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, para ser lembrado por muito tempo, encaminha um passeio pela memória da revista — e, reafirme-se, do país. VEJA — que aparece numa das cenas do longa, manuseada por Eunice Paiva, a personagem de Fernanda — publicou com exclusividade, em setembro de 1986, entrevista com o médico psiquiatra Amílcar Lobo, que atuava como um “medidor” dos limites de quanto uma pessoa poderia ser torturada nos imundos porões da repressão. O depoimento, que na semana seguinte viraria capa, ajudou na reabertura do caso e, no fim das contas, na entrega do atestado de óbito do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado pela ditadura em 1971, à mulher e aos cinco filhos, retratados com emoção e elegância por Salles.
Cinco meses antes, naquele ano de 1986, em extraordinária coincidência aos olhos de agora, a personagem de VEJA — “A garota de todas as telas”, na chamada principal — era uma menina de 20 anos que fazia sucesso na novela das 8, Selva de Pedra, e acabara de estrear Eu Sei que Vou Te Amar, de Arnaldo Jabor, em papel que lhe renderia o troféu de melhor interpretação feminina em Cannes. Do início daquela reportagem: “Jabor procurava uma jovem atriz com ‘cara e jeito de neurótica’, e a escolheu para trabalhar porque achou que ‘filho de peixe, peixinho é’ ”.

Hoje, o mundo inteiro sabe que Fernanda não é apenas filha de peixe. Ao brilhar na premiação de Los Angeles, homenageando a mãe, Fernanda Montenegro, que 26 anos antes fora candidata com Central do Brasil, deu-se uma linda parábola. Desde o instante em que entrou no radar da crítica e das premiações internacionais, Ainda Estou Aqui mereceu ampla cobertura de VEJA. Do fim de fevereiro, quando a produção começou a despertar interesse, até esta semana, foram cerca de 100 reportagens veiculadas no blog Em Cartaz, em VEJA On-line, além de especiais de moda — e uma dezena de programas em vídeo que cobriram as chances no Oscar, trouxeram entrevista da atriz no Festival de Veneza e, mais adiante, uma afiada conversa com ela e o colega Selton Mello. Nas páginas da edição impressa publicada em 1º de novembro passado, a editora Raquel Carneiro — responsável pela área de cinema da revista e que assina também a reportagem da edição — produziu ainda um especial alentado sobre o sucesso do filme. VEJA pode dizer: estamos aqui, sempre atentos.
Publicado em VEJA de 10 de janeiro de 2025, edição nº 2926