“Cada músculo dói”, diz guitarrista Kiko Loureiro, do Megadeth
O brasileiro fala dos seguidos problemas enfrentados pela banda americana em sua carreira e da expectativa de enfim tocar no Rock in Rio
Como você imagina a apresentação do Megadeth no Rock in Rio 2022? Comecei a tocar guitarra por causa de um Rock in Rio, o de 1985. Estar no palco principal com o Megadeth será uma experiência incrível, o auge de uma empolgação que estamos sentindo desde que voltamos aos shows ao vivo. Vamos fazer mais de 30 até lá. O recomeço é engraçado, porque o corpo sente: cada músculo dói, cometemos erros que não são comuns, a cabeça demora para associar tudo.
Em 2019, o vocalista Dave Mustaine foi diagnosticado com câncer. Como a banda superou isso? Quando recebi a notícia, precisei parar e respirar fundo. O Dave contou com a maior naturalidade do mundo e não parou de trabalhar na gravação do novo álbum. Com o avanço da doença, demos uma pausa de seis meses. Mas em nenhum momento achei que a banda fosse acabar.
O mesmo Dave Mustaine disse recentemente que considera o uso obrigatório de máscara uma “tirania”. Você concorda? Eu sou completamente a favor da máscara. Na Finlândia, onde eu moro, as pessoas usam sem nenhuma necessidade da imposição. É o tipo de coisa que não deveria ser politizada. O caminho da ciência tem de ser respeitado e ponto-final.
O baixista David Ellefson tocava no Megadeth quando foi acusado de pedofilia. Como vocês receberam a notícia? Foi um choque. Cheguei a falar com ele, ouvir seu lado da história, mas não dá para passar um pano nesse tipo de situação. Ele tem de encarar as consequências dos seus atos.
Ao longo de quarenta anos de estrada, os músicos do Megadeth passaram por vários problemas de saúde, drogas, cancelamentos de shows. Não chega a desanimar? Eu chamo isso de vida. Conseguimos superar e seguir adiante. Apesar de tudo, estamos aqui, prontos para tudo.
Artistas estrangeiros dizem que tocar no Brasil é especial porque o público é muito animado. Você também acha? Sem dúvida. Eu fiz um caminho inverso: cresci fazendo shows no Brasil e achava que o padrão era esse. Quando comecei a tocar na Europa, tinha a impressão de que não estavam gostando. No Brasil, do camarim já dá para ouvir os fãs gritando e cantando. Em outros países é um silêncio imenso. Você tem de pedir para o público interagir.
Publicado em VEJA de 3 de novembro de 2021, edição nº 2762