Black Pumas: a dupla que veio para vingar o bom e velho rock
Como a união de um músico de rua da Califórnia com um guitarrista do Texas deu origem a um resgate — com brilho — das raízes do gênero
O americano Eric Burton aprendeu a tocar e a cantar na igreja, e até alguns anos atrás vivia da grana que ganhava em apresentações no píer de Santa Mônica, em Los Angeles. Com o sonho de se tornar músico profissional, mudou-se em 2017 para Austin, no Texas, onde também passou a apresentar suas covers de Otis Redding, Marvin Gaye e Al Green nas calçadas da cidade. Foi então que o destino propiciou uma grata conjunção astral: na mesma época, o experiente guitarrista Adrian Quesada, treze anos mais velho, havia deixado sua banda de música latina e deparou com Burton tocando na rua. Assim nascia o Black Pumas — uma das bandas mais respeitáveis da atualidade. “Nossa química é transcendental. Se eu aprendi a tocar na igreja, Quesada formou sua própria igreja, baseada no rock’n’roll”, disse Burton a VEJA.
Da união do músico ambulante com o veterano guitarrista surgiu, de fato, um peculiar caleidoscópio sonoro. Se Burton trouxe a influência do soul e do blues, Quesada contribuiu com referências que incluem até artistas brasileiros, como Os Mutantes e Caetano Veloso — mas calcadas, sobretudo, no velho e bom rock. A eclética mistura resultou em um artigo que andava em falta no gênero: qualidade musical. O Black Pumas faz rock honesto e básico, que bebe das raízes da música negra com muita inspiração — e sem firulas. A voz afinada de Burton remete ao melhor do blues feito no norte dos Estados Unidos, enquanto a levada rítmica de Quesada une o som da Motown ao estilo dos arrojados solos de Prince. Talvez venha daí a dificuldade da crítica internacional em rotular o trabalho dos dois, classificando-o de “soul psicodélico”, seja lá o que isso signifique. O que importa, enfim, é que se trata de música de gente crescida — um antídoto à infantilização crescente do pop.
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Em 2020, apenas um ano após o lançamento do primeiro álbum, eles já haviam sido indicados ao Grammy. Recentemente, abriram os shows dos Rolling Stones em Minneapolis. Se não fosse pela pandemia, teriam engatado uma extensa turnê internacional, que previa um show em São Paulo. O cancelamento da apresentação, no entanto, agora será compensado: em 27 de março, a dupla finalmente tocará na cidade, como atração do festival Lollapalooza. “Aprendi nas ruas a criar um palco para mim mesmo e a me conectar com o público”, diz Burton. O rock agradece.
Publicado em VEJA de 9 de março de 2022, edição nº 2779
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